Triplex no Guarujá - Crônica Nr 9. 30 Mar 22
Capítulo I -- Gaby fala sobre o verbo "gustar" em espanhol. Ela entende que a prática leva à perfeição.
(Gaby) -- Woof! Woof! (Bom dia!).
((Daddy) -- Bom dia, minha linda! ‘Cê gostou do passeio pela praia do Bessa hoje bem cedinho?
(Gaby, animada, falando em espanhol) -- El paseo por la playa me gustó mucho. Pero a mí me gustó más el agua de coco. Me gustaría hacer lo mismo mañana por la mañana.
(Daddy) -- Gaby, já sei que ‘cê sabe falar espanhol muito bem. Inclusive, você empregou o verbo “gustar” com maestria. Mas pare de se mostrar, menina.
(Gaby) -- Poxa, daddy! Quanto a gente aprende algo tão interessante, deve praticar. Não é para me mostrar, é para consolidar o conhecimento.. Eu aprendi esse verbo tão difícil ouvindo muitas vezes a canção “Me Gustas”, do Joan Sebastián*. Olha só o começo da canção. Não é poético?
“Me gustan tus ojos, me gusta tu boca
Me aloca, me aloca el roce de tu piel
Tu presente, tu ayer, me gusta”
(Gaby) -- E aquele exercício sobre o verbo “gustar” que você me passou foi a cereja do bolo, né?
Capítulo II -- Gaby quer ensinar espanhol.
(Daddy) -- Esse trecho da canção é muito poético, minha linda. Nesse caso, concordo que a prática leva à perfeição. Mas, por favor, não exagere, senão o número de seus leitores brasileiros vai diminuir.... Que é isso, Gaby? Por que você está coçando o pelo de trás pra frente?? Coisa estranha, essa!
(Gaby) -- Não estou me coçando. Não tenho pulgas ou carrapatos, seu bobo!! Eu quero dizer: Pelo contrário!! O número de leitores brasileiros não vai diminuir. Pelo contrário! Vai aumentar, isso sim. A propósito, acho que vou começar a dar aulas de espanhol, cobrando um preço razoável! Assim, não vou precisar implorar por uma visita à petshop!! E você vai ser meu assistente. Prometo lhe pagar cinco por cento da renda.
(Daddy) -- Somente cinco por cento?? Desse jeito, eu prefiro participar do show de piadas, no qual eu ganharia dez por cento. Se você der aulas a preço de banana, então, ‘tô lascado!
(Gaby, decidida) -- ‘Tá certo, seu pechincheiro!! Dez por cento. Vamos começar a treinar as aulas hoje mesmo!
(Daddy) -- Vamos deixar para amanhã, minha flor. Diz o ditado: “Não deixe para hoje o que você pode fazer amanhã!”
(Gaby) -- Na, na, ni, na, não!! Amanhã é a palavra dos preguiçosos! Além do mais, seu “haragán”! *, você distorceu completamente a frase. O ditado popular correto é: “Não deixe para amanhã o que você pode fazer hoje!” Você acha que consegue me enrolar, seu “perezoso”**?
* Haragán -- preguiçoso.
** Perezoso -- preguiçoso.
Capítulo III -- Gaby quer registrar seu nome completo num cartório.
(Daddy) -- Está bem, minha flor!! Você venceu! Começamos hoje mesmo!
(Gaby) --. Daddy, mudando de assunto, vamos a um cartório registrar meu nome completo. Também quero registro de identidade e CPF.
(Daddy) -- Que é isso de nome completo, minha flor? Que nome completo seria esse?
(Gaby) -- Gabriela Atlas Schindler.
(Daddy) -- Que negócio é esse de Atlas Schindler, menina? Até entendo o nome Gabriela, porque é o seu nome real. Mas Atlas Schindler? Isso é coisa de estrangeiro. Segundo a mitologia grega, Atlas é um titã, que sustenta o mundo sobre os ombros. E Schindler é um nome alemão; também foi o personagem central do famoso romance A lista de Schindler, que, inclusive, foi transformado em filme. De onde você tirou essa ideia maluca, meu bebê?
Capítulo IV-- Gaby desdenha o nome de família..
(Gaby) -- Ideia maluca, não!! Queremos direitos iguais aos dos seres humanos. Na última assembleia do COVID, o sindicato Cães Organizados e Vigilantes pela Igualdade de Direitos, aprovamos o segundo direito: cada um de nós deve ter um nome completo. Esse nome veio daquela caixa grandona que carrega a gente pra cima e pra baixo no prédio. Todo dia eu vejo aquela plaquinha com o nome Atlas Schindler. Então, gostei!!
(Daddy, pensando) -- Só me faltava essa!
(Daddy, falando) -- Sei! O elevador…
(Gaby) -- Isso mesmo! “Ascensor”, em espanhol! “Elevator” ou “lift” em inglês.
(Daddy, pensando) -- Que menina amostrada!
(Daddy, falando) -- Mas você poderia usar o nome da minha família, Gaby. Eu não cobraria nada por isso. O que acha?
(Gaby) -- Obrigada, daddy! Mas, se você não se importa, prefiro um nome importado. Se no futuro, você se cansar de mim e me abandonar ou me doar para outra família, o sofrimento vai ser menor para os dois lados.
(Daddy, pensando) -- Só me faltava essa! Uma cachorrinha psicóloga e, ainda por cima, consciente da realidade!
(Daddy, falando) -- De acordo, meu amor. Fique sabendo que eu não tenho a menor intençao de abandonar você!
(Gaby) -- Agora você me fez lembrar-me daquela canção francesa, chamada "Paroles, paroles, paroles'', com a cantora Dalila e Alain Delon.
(Daddy, pensando) -- Pronto! Quem é que aguenta?? Essa menina agora inventou de estudar francês! Só Jesus na causa!!
Daddy, falando) -- O que você quer dizer com "Paroles, paroles, paroles"?
Capítulo V -- Gaby quer tomar posse de um triplex no Guarujá.
(Gaby) -- Woof! Woof! A tradução de "Paroles, paroles, paroles'' é Palavras, palavras, palavras…! No contexto da canção, é igual a promessa de político em campanha eleitoral. Promete, promete, promete, mas não cumpre nada!!
(Daddy) -- Eu não sou político, viu, menina?? E por que esse interesse urgente em registrar a firma em um cartório?
(Gaby) -- É que eu vou tomar posse de um apartamento triplex no Guarujá!!!
(Daddy, pensando) -- Ai, minha Nossa Senhora! Essa cachorrinha pirou de vez!!
(Daddy, falando muito sério) -- Não me diga que é aquele apartamento triplex na cobertura de um edifício no Guarujá, no Estado de São Paulo, que, dizem, pertence a um político muito famoso..
(Gaby) -- É esse mesmo!! E não é apenas na cobertura. Esse "modesto" apartamento ocupa os três últimos andares do prédio; por isso, o nome triplex, oxente!! Como ele disse que não lhe pertence, então não pertence a ninguém! Logo, será de quem chegar primeiro! No caso, eu mesma!!
(Daddy, lamurioso) -- Não faça isso comigo, minha linda!! Aquilo ali é um balaio de gato!! Há muita confusão sobre quem são os verdadeiros donos do triplex!
Não estou dizendo que seja o caso, mas, às vezes, quando alguém não deseja declarar alguma propriedade no imposto de renda, conta com a ajuda de um laranja. Além disso, o processo foi considerado nulo. Enfim, não há qualquer prova contra esse político.
Capítulo VI -- Gaby confunde os significados da palavra laranja.
(Gaby, revoltada) -- Olha aí!! Não ‘tô dizendo?? Uma simples laranja pode ser proprietária de um apartamento!! E eu não posso?? É por essas e outras que criamos o nosso sindicato, o COVID!!
(Daddy) -- Minha flor, você entendeu laranja no sentido denotativo, o sentido real da palavra!! Não me referi à fruta cítrica. Eu havia empregado o sentido conotativo. Um “laranja”, no contexto, é uma pessoa que empresta o próprio nome e outros dados pessoais para outra pessoa ou empresa visando a execução de um ato legal - digo, ilegal - para esconder o verdadeiro autor ou proprietário dessa ação. Capiche?
Precisamos ter cuidado com isso, meu amor. O “hômi” está concorrendo a presidente este ano. Vai que ele ganha! Você e eu não queremos ver o sol nascer quadrado, não é?
(Gaby) -- Não se preocupe, daddy, que isso não vai acontecer! O sol sempre nasce redondo. Tenho visto isso acontecer todos os dias à beira da praia.
(Daddy) -- Eu sei, minha linda. Mas essa expressão idiomática quer dizer que … É melhor nem dizer!! Bate na madeira três vezes!!
(Gaby) -- ‘Cê ‘tá querendo dizer que isso poderia ser um abacaxi pra gente??
Capítulo VII -- Gaby quer um picolé na praia.
(Daddy) -- Mais ou menos isso, meu amor! Um abacaxi difícil de descascar, diga-se de passagem…!! É melhor a gente mudar de assunto….
(Gaby) -- ‘Tá certo. Hoje à tarde, caminhando pela orla, quando passar aquele carrinho de picolé, você compra um pra mim e outro pra você, por favor?
(Daddy) -- Claro, meu bem. Eu gosto muito do sabor graviola, de coco ou de limão. Mas há muitos sabores para escolher.
(Gaby, decidida) - Vou querer o meu de coco!
(Daddy, curioso) - Mas por que de coco, minha flor?
(Gaby, desafiadora!) - Hoje de tarde, esse pessoal vai ver o cão comendo o coco!!
(Daddy) -- O cão chupando manga, você quer dizer, não é? O cão comendo o coco não é uma expressão idiomática.
(Gaby, resoluta) -- Não era!! Mas agora passou a ser!! Houve um ministro dele -- aquele dos trinta mil dólares -- que usou a palavra "imexível" pela primeira vez. Aí, a Academia Brasileira de Letras (ABL) registrou e oficializou esse vocábulo. O meu neologismo vai cair no gosto do povo…Logo, logo, a ABL vai entender e aceitar.
(Daddy, pensando) -- Que menina arretada!!
(Gaby, com dois quentes e um fervendo) -- Arf! Arf! Arf! Arf! Arf!( Não me arrete, não, hein!!)
Fontes:
* Verbo gustar - canción "Me gustas" - Joan Sebastián letra https://www.youtube.com/watch?v=1G-FqGFbee8
** “haragán” - preguiçoso, em espanhol.
https://www.wordreference.com/espt/harag%C3%A1n
** “perezoso” - preguiçoso, em espanhol.
https://www.wordreference.com/espt/perezoso
*** Atlas Schindler - empresa de elevadores. https://www.schindler.com.br/pt/sobre-atlas-schindler/atlas-schindler-no-brasil.html
Atlas. Mitologia grega.
https://mitologiagrega.net.br/atlas-tita-que-sustenta-mundo-nos-ombros/
O cão chupando manga!! Expressão idiomática. No contexto, significa zangada.
https://www.dicionarioinformal.com.br/o%20c%C3%A3o%20chupando%20manga/