O PÔR DO SOL E OS TRIGAIS
O fenômeno do pôr do sol sobre os trigais ainda me causa esplendor. Com oito anos, via tudo como algo celestial, infinito e grandioso. O alaranjado do céu e o amarelo da lavoura de trigo projetavam-me beleza e encantamento. Sentia-me acalentada pela natureza. Era uma princesa de contos de fadas. Feliz, saltitava à volta dos trabalhadores, fazendo-lhes perguntas.
Queria entender os poderes do sol e dos trigais. Minha leitura era confusa e indecifrável; nada preciso. Na busca de respostas, mandavam-me perguntar a minha avó ou a minha mãe. Lá ia eu toda animada! Minutos depois, retornava cabisbaixa. A explicação não me fora convincente!
Ansiosa, esperava por meu avô. Depois de ouvir minhas perguntas, contava-me a história de uma menina e de seu avô que, nos fins de tarde, transformavam-se em pássaros pintores e saiam a pintar o sol e os trigais. Meu sono era embalado pela doçura de sua voz.
Concentro-me na pureza de meu sorriso de criançã e na beleza dos olhos dos olhos azuis de vovô. Éramos só amor!
Sessenta e cinco anos depois, meu pensamento continua confuso. Por hoje, desisti de buscar respostas. Vou dormir!