A XÍCARA
Pode parecer tolice falar ou escrever sobre objeto tão banal mas essa que dá nome à crônica não era convencional. Ficava em um ponto de parada na estrada BR 116, em Registro, no caminho de Curitiba para São Paulo. A família de meu marido, mãe, irmãos, cunhadas, sobrinhos, vivia naquela capital. Era o motivo pelo qual íamos muito a São Paulo, algumas vezes de carro, de avião, outras de ônibus, quando as passagens aéreas estavam muito caras. Como disse, a xícara ficava sobre uma caixa d'água bem alta em um ponto de parada, um restaurante e lanchonete à beira da rodovia. Era uma xícara descomunal, colocada lá como propaganda de um chá bastante conhecido. O município de Registro, além de grande produtor de bananas, se destaca como o maior produtor de chá no Brasil.
O inusitado recipiente cumpria bem o seu papel porque era visto de longe. Parávamos lá para lanchar e usar os sanitários, quando íamos de carro. Os ônibus paravam e, provavelmente, ainda param no Graal, que oferece muito mais serviços de qualidade e um enorme estacionamento. O engraçado é que o restaurante não se chamava “A Xícara”, tinha outro nome. Entretanto, sempre o chamamos assim e hoje, passados alguns anos, não lembro o nome do estabelecimento e nem sei se ainda existe. Quando levávamos crianças, quilômetros antes de chegarmos, já avistávamos a xícara e elas ficavam em alvoroço, dizendo:
- Vamos parar na xícara para almoçar!
Outro fato que me faz lembrar de Registro é que, certa vez, tínhamos uma viagem para os Estados Unidos e íamos a São Paulo de ônibus. Chovia torrencialmente em boa parte do Paraná e do sul do Estado de São Paulo. O Rio Ribeira estava completamente fora de seu leito e a ponte, encoberta por uma camada de água. Quando nos aproximamos da mesma, o motorista avisou que iria tentar atravessar. Ficamos assustados, porém não havia alternativa, sairíamos de Guarulhos na manhã seguinte para Miami e outras cidades americanas. O ônibus entrou na ponte bem devagar e prosseguiu em marcha lenta até a outra margem. Após o suspense da travessia, todos os passageiros, ainda receosos, aplaudiram o condutor. Não queríamos nem pensar nos transtornos que teríamos se não pudéssemos comparecer para embarque; passagens compradas e marcadas, vistos providenciados, reservas feitas em hotéis, passeios agendados...
Felizmente, correu tudo bem, graças a Deus!