A rosa de plástico

O amor é um sentimento que não pode ser forçado. Sua imprevisibilidade, sua espontaneidade, é o que o torna tão especial. Você pode procurar o amor, mas e se o amor te encontra?

Jonas era um rapaz tímido. Vivia com amigos que, sempre que podiam, lhe diziam o quanto ele precisava arrumar uma namorada. Jonas queria, mas achava que por não ter tanto jeito com as pessoas, não saberia como ser um bom namorado. Era domingo, estava quente, fim de tarde. Jonas se arrumou, tinha cortado o cabelo a pouco, queria ir ao cinema (sozinho como sempre).

Chegou ao cinema, procurou um lugar para estacionar. Tinha uma Scooter que foi o que conseguiu comprar com seu trabalho como programador. Mas tinha esperanças em seu coração que, após terminar sua faculdade, a segunda no caso, teria como conseguir um trabalho como professor, sua verdadeira paixão.

Adentrou ao shopping, cabeça baixa, andando como se fosse invisível a multidão. Jonas olhava as pessoas como seres completamente estranhos a ele: era como se estivesse em outro mundo. As vozes, sorrisos, gestos, tudo, era nada, enquanto ele abafava tudo com seus fones. Isolamento de ruído, sim, isso me dá paz, pensou.

Chegou ao cinema, a fila, como sempre lotada. Queria ver um filme que acabara de estrear e tinha medo que seus amigos lhe desse algum "spoiler". Eles o convidaram para um sessão em grupo, mas ele não queria, tinha medo de não conseguir interagir com os amigos de seus amigos.

Jonas continuou andando a fila e ao mesmo tempo pegando sua carteira no bolso, de repente o choque, o esbarrão.

Desculpe, saiu tão assustadoramente alto e sem jeito que ele mesmo se ouviu. Olhou ao chão e havia uma rosa. Imediatamente pegou e só entregou para a pessoa em que tinha esbarrado. Subiu o olhar, e logo viu que se tratava de uma moça. Aparentava ter mais ou menos sua idade. Tinha cabelos longos, vestia uma calça jeans que parecia um pouco surrada do tempo. Vestia uma blusinha, simples, como se também quisesse passar invisivel. Jonas parou de respirar por um segundo: parecia uma eternidade. Ouviu seu coração bater com tanta força que seus ouvidos, tapados pelo fone, sentiram a pressão.

Olhou nos olhos da moça, que estavam vermelhos. Ela pegou a rosa, passou as mãos novamente no rosto, como se quisesse limpar a marca de um crime, um que ela mesma não tinha cometido. As mãos de Jonas pararam, o olhar da moça se alinhou ao seu. Não se lembrava quando tinha sido a última vez que alguém tinha feito contato visual com ele, talvez, pensou ele, foi quando era criança. Em seu fone, tocava Adele, Hello. Parecia a trilha sonora perfeita para aquele momento. Deus, o que tá acontecendo comigo, pensou. A moça gesticulou, como se dissesse obrigado.

Jonas tocou sua mão, se apresentou e perguntou seu nome, ou ao menos pensou que tivesse tocado e perguntado. Quando deu por si, a moça já estava à frente, na fila e parecia sozinha. Ele se pôs atrás daquela moça. O filme? Que filme. Seu coração batia. Tentou ver qual sessão aquela moça iria. Sem sucesso. Comprou seu ingresso, entrou na sessão. Viu o filme. Foi o filme mais falado naquele ano, ele lembra. Mas se você perguntar a ele como era o filme, ele não lembra de nem... uma... cena.

Saiu da sala, olhou o hall do cinema. Nada, andou pelo shopping. Pensou que talvez encontrasse a moça na praça de alimentação. Nada. Gastou um bom tanto de horas e nada. Seu coração começou a se acalmar, mas era uma calma triste, uma sensação de oportunidade perdida, de um momento único em sua vida. “A timidez venceu!” ele pensou novamente. Voltou para casa, voltou para sua vidinha. Continuou o próximo mês insólito, quase que como no automático. Seus amigos estranharam: Jonas era estranho, tímido. Não era um cara mal cuidado, mas era alguém difícil de se entender. Mas naquele momento, seus amigos estavam preocupados. Ele está diferente demais, uma das meninas da republica perguntou. Será que está sofrendo de amor? Que amor? Outra retrucou – É o Jonas!!!

Um mês e meio se passou. Fim de agosto. Aquele mês que ninguém gosta. Os amigos de Jonas resolveram intervir, já era hora daquele “bode” acabar.

- Vamos a uma festa Jonas... E sim, você vai! Antônio era o amigo mais antigo de Jonas e respeitava seu jeito, mas já estava cansado de como seu amigo estava. Já era hora de botar a vida para andar.

- Não quero Antônio, você sabe...

- Sem desculpas. E outra: se hoje for o dia?

- Dia de que?

- Do amor! Antônio ria. Te arruma, põe a melhor roupa que tem. Ajeita esse cabelo e não... não quero desculpas!

A festa era na casa de uma amiga, de uma amiga, de um amigo do Antônio, ou coisa assim. Não lembro.

Jonas entrou com Antônio e quando estava para colocar seus fones de ouvido, Antônio segurou sua mão. O gesto não precisava de voz, pois o rosto de Antônio franziu em um claro não...

Jonas rodou a festa. Bebeu um pouco. Começou a sentir aquela atmosfera. Olhou as pessoas, mas era como se estivesse em um sonho e ele de fato, não estava ali.

Jonas pensou em ir embora, Antônio já o deixara para ficar com sua turma. Mas uma coisa chamou sua atenção: uma rosa que estava sobre uma mesa vazia. Era uma dessas rosas de plástico e pano, feita de forma simples. Pegou a falsa flor e se lembrou daquele dia no cinema. Desejava que naquele dia tivesse tido a coragem de perguntar aquela garota quem ela era, pois foi naquele dia que se lembra que se apaixonou pela primeira vez.

Ficou ali parado, até que recebeu um empurrão. Não viu de onde veio, mas derrubou a pobre rosa. Fez um esforço para pegá-la, mas alguém foi mais rápido que ele. Seu coração disparou. A calça era a mesma. O rosto era o mesmo. O momento com a rosa, o mesmo. A moça sorriu e se desculpou. Sua testa franziu, seu sorriso pareceu sem graça. Já nos conhecemos, ela falou. Jonas soluçou um sim, gutural e rouco, mas o suficiente para a moça ouvir. Ela ajeitou o cabelo. Jonas sentiu o cheiro de seu perfume. Ela segurava um cigarro na mão direita, mas logo o guardou. Ajeitou novamente o cabelo, sorriu.

Jonas e a moça, que aliás, ele descobriu chamar-se Carina, ficaram ali horas conversando. Carina contou que naquele dia esperava um date no cinema que furou com ela. E que hoje, naquele dia tinha uma festa de uma amiga, de uma amiga dela, e que era quem conhecia Antônio. Jonas sorriu e pensou como o universo é maravilhoso: ele que nunca acreditou em sorte, naquele dia teve uma segunda chance. E hoje faz dois anos que Jonas e Carina se casaram, ele agora professor, ela uma jovem administradora. A vida é cheia de surpresas, Jonas sempre pensou, e a rosa que ele achou aquele dia, hoje é a prova de seu amor...

Dom Torres
Enviado por Dom Torres em 27/08/2022
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