O Quarto do Medo
De repente ouço um estampido dentro da casa
Não havia ninguém, estava vazia
Sem vozes, passos ou qualquer outra movimentação humana.
Apenas um explosivo e seco som que vem de dentro
Lá do fundo.
Onde ninguém foi.
Aquele espaço deserto, inabitado, escuro e esquecido da casa
Por vezes pareceu-lhe sombrio, mas era apenas desconhecido.
Aquele lugar foi evitado por décadas.
A porta emperrada e com as dobradiças enferrujadas exige um grande esforço para ser aberta.
Não há técnica capaz de abri-la sem o emprego de força física.
Após muito esforço, tentativas em vão lembram-lhe que pode haver alguma parede ou janela em algum lado da casa que possa ser destruído e dar acesso ao quarto obscuro.
Imediatamente dá a volta pela casa e ali escuta ruídos assemelhados ao choro de criança em desespero.
Sai em busca, sem êxito. Não encontra ninguém, apenas a casa, o céu azul e uma vegetação campestre longínqua.
Não há insetos nem pássaros. Nem o som que o vento faz é companhia. Nada.
O choro fica cada vez mais distante e logo cessa.
Agora, uma sequência de tiros surpreende seus ouvidos. O medo domina aquela peculiar manhã de domingo.
Correu, deu a volta pela casa, gritou por socorro – mesmo sabendo que não há ninguém para ajudar-lhe – e tentou fugir. Para onde?
Como? Fugir de quem? De quê?
Não há fuga.
Ela avança para dentro da casa, corre em direção ao quarto fechado munida de certeza.
É ali.
Tudo parece calmo, apesar do desespero que antecedeu a sua caída de frente para a porta.
Aquele choro de desespero e angústia faz do chão velho de madeira, uma aquarela em tons de carvalho. Lágrimas que respingam dançando libertas da dor.
Escuta um rangido. A porta se abre lentamente. Uma única fresta a mantém entreaberta.
Rapidamente ela se levanta e entra. O profundo escuro impede que ela perceba o tamanho do espaço. O medo vai embora. Imagina deparar-se com uma cena de crime ou algo aterrorizante, considerando o choro e os estampidos que ouvira.
Adentra lentamente naquela escuridão e na medida em que avança, sente-se familiarizada com a obscuridade do local.
Sua visão se adapta à escuridão e começa a perceber alguns sinais do ambiente até que se depara com uma criança no chão, encolhida e assustada. Estava machucada e chorava silenciosamente.
Quando viu o rosto da menina, reconheceu-se a si mesma. Era ela, com os pequenos olhos castanhos e os cachinhos cor de mel.
Abraçou e acolheu como nunca pretendeu fazer consigo.
Prometeu cuidar e proteger.
Compreendeu o que só ela poderia fazer.
Em meio ao caos solitário e árduo, por vezes ela feriu a si mesma.
Em meio ao sofrimento e às dificuldades, somente ela poderia salvar aquela menina assustada.
Porque somente ela seria capaz de ouvir os estampidos e adentrar na escuridão do seu coração.