Ao redor da mesa
Como saberemos o que de fato separará o menino do homem, a velha e infantil crença de Peter Pan na maravilhosa terra do nunca e seus dizeres de pensamentos felizes faz a gente voar, que voar seria esse menino?
Num momento em que o que mais queremos é estar e não voar, aguardo ansiosa pelo momento da mesa cheia novamente, da risadaria incansável e do pedido quase sem nexo da mãe para silenciarmos ou moderarmos nas falas que não, não conseguimos e ela insistindo que a vizinha iria reclamar por tamanha algazarra da nossa família que alegre não se contenta em esperar o outro terminar para também contar alguma história boba do cotidiano frenético e de luta e que todos vivemos e incansavelmente vivemos com amor e com respeito primeiramente a vida que a cada novo amanhecer, a cada nova ruga na testa e a cada dor que somamos e nos faz cada vez mais ansiosos por ela, a vida!
Quando haverá a medida certa pelo valor da vida ao redor da mesa? Quando conseguiremos prever que valor tem a vida que temos ou ainda que a vida que tínhamos não teremos mais, foi-se, esvaiu-se em meio há uma outra vida, maldita, mas veio a nós para que pudéssemos parar de alguma forma. E esse parar parou a mesa rodeada de risadaria, a mesa com as delícias da família, que valem todas essas delícias sem a risadaria, que valem o armário cheio sem o participar da casa cheia. Há a quem diga que vale muito e vale, vale a vida de muitos, afinal até quando os armários estarão cheios, até porque de muitos já não estavam e a risadaria também os compensava muitas vezes com um poucochinho só de delícias os alegravam com o acalento dos que ao redor da mesa estavam!
Quando foi a última vez que aproveitamos da risadaria ao redor da mesa dos nossos? Ou quando foi que mesmo que por um instante percebemos que não haveria a próxima vez, ao menos por um tempo para uns, para outros talvez para sempre!
Quem pode valorar a vida e impor quantos podemos perder ou quantos podemos sacrificar? Quem pode dizer quem sãos os preparados para entrar na fila do sacrifício? Não há o que se sacrificar, são verdadeiras enciclopédias vivas, se todos pudessem ouvir um pouco aprenderia muito mais que pequenas histórias como a de Peter, há histórias reais sendo contadas por aqueles ditos na fila do sacrifício e há muitos ainda precisando aprender antes de simplesmente deixá-los partir e dizer tudo bem! Os mais fracos estão na fila e há quem diga que tudo bem, sacrifícios precisam ser feitos, mas ao redor da mesa de cada um há alguém na fila do sacrifício, quem aceitará? Qual valor da vida? Houve no passado quem quisesse colocar um valor a vida, em nome da ciência, do desenvolvimento ou somente com desculpa para tal, mas perdão, os meus amores não possuem um valor acessível, seu valor transcendem as muitas joias e nem mesmo todo ouro do mundo poderia comprá-los!
Há vida ao redor da mesa e talvez somente isso deveríamos nos apegar, de aguardar a volta da risadaria ao redor da mesa, das calorosas risadas dos primos que quando juntos esquecem até mesmo das crianças na sala que por lá mesmo se entendem e vão nos deixando aproveitar a risadaria com nossos pais, ora quem poderá valorar o convívio gostoso dessa risadaria!
Nos disseram que não voltaremos tão logo a vida que tínhamos antes, mas sigo saudosa à espera da risadaria ao redor da mesa!