O bar casa do terror

Certa vez andando no centro da cidade, entrei num bar de um velho português, que mais parecia uma velha espelunca, repleta de teias de aranhas e muito mofo nas paredes e um bocado de poeira no piso. E que até se assemelhava mais ao escritório do homem aranha ou o bar do velho arigó Zé Maria, com o inusitado e inédito nome de casa do terror.

No entanto como eu estava com muita sede nesse vivido calor Amazônico a 40 graus na sombra com sensação térmica de 45 graus, resolvi encarar esse tal suplício de imundície lusitana que parou no tempo com balcões velhos e de vidros quebrados, mas com uma clientela fiel e alegre, estando indiferente a toda aquela situação de negligência bucólica.

E por falar no tal bar da casa do terror, é um tanto jocoso, mas existe realmente um bar aqui em Manaus com essa nomenclatura nada convencional e um tanto exótica e estrúxula. Pois bem, o bar funciona todo fim de semana e feriado. E o mais interessante disso tudo, é que o ambiente vive lotado com muita gente de todo tipo e todas as classes sociais: gente branca, gente preta, gente parda e se duvidar existe até gente multicolor. O lugar é super animado, entra pobre, entra rico, enfim é uma mistura bem diversa.

E o principal de tudo isso e essencial, é que o lugar está repleto de mulher bonita, mulher feia, mulher de tromba, enfim tem mulher de todo tipo que você nem imagina. E é evidente e óbvio, muita cerveja 🍻 gelada e muita música brega que o velho Zé Maria tem o prazer quase sórdido de ainda tocar para uma massa de pessoas que variam entre pobres e ricos que se misturam sem nenhuma discriminação social.

É claro, excluindo a música que nem sempre é das melhores, porém apenas os velhos discos de vinil que é uma exceção à regra e que eu acho ótimo e Interessante quando ele toca em seu velho toca discos, os velhos discos de vinil em alto e não tão bom som que estronda em suas enormes caixas, espalhando a sonoridade no meio de toda aquela cacafonia confusa de muitas pessoas conversando bem alto e aos gritos. Todavia eu sou suspeito para falar, porque eu já estive lá algumas vezes e sou um fã incondicional dos discos de vinil. O mesmo eu não posso dizer da música, que é de um gosto duvidoso, para não dizer de mau gosto, apesar do tal velho ditado popular: que gosto não se discute!

E ainda tem mais um detalhe curioso; atrás da porta da entrada do bar assombrado, tem uma vela que fica acesa e quando o tal velho se invoca, começa a tocar os pontos de macumba, como o povo costuma dizer. Para alegrar o festivo ambiente ou tornar mais caótico do que já é. Mas sempre achei essa palavra pejorativa, chata e discriminatória. E fiquei curioso em pesquisar essa origem da palavra e o que a mesma significa. E encontrei num site, explicando que é uma linguagem africana de origem banto nagô da Angola que quer dizer: espíritos da noite 🌃. Entretanto eu não sou nenhum expert no assunto e nem muito menos um pesquisador profissional ou talvez seja um trabalho para um antropólogo que estuda sobre as civilizações antigas e atuais. Por isso eu afirmo, se eu estiver errado, pode corrigir_me por gentileza, e é lógico se for alguém especialista no estudo da cultura afro_brasileira.

No entanto voltando a esfera do bar, que eu penso que é um único espaço que é socialmente democrático. Onde é um local de majestosa alegria e de frenética confusão. Em que a alegria das mulheres animadas pela a sonoridade rítmica do brega dançante, em que elas dançam e se requebram toda e sem querer batem nas mesas num movimento involuntário de seus corpos e de suas bundas que chegam a quebrar as garrafas de cervejas sem ser de propósito, estilhaçando vidros sobre as mesas e sobre o chão. E o velho Zé Maria que ouve esse barulho que se faz da imensa quebradeira das garrafas quebradas; grita irado e muito injuriado no microfone: bota essas putas pra fora, que elas estão quebrando as minhas garrafas e me dando prejuízo! E assim a nossa vida pode ser cômica na tragédia ou trágica na comédia.

TEXTO DO LIVRO:

CRÔNICAS DO COTIDIANO

PUBLICADO NO ANO DE 2016

2 EDIÇÃO/2019.

Déboro Melo
Enviado por Déboro Melo em 25/08/2022
Reeditado em 25/08/2022
Código do texto: T7590478
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