Compassos
O clima segue quente e seco na província. A semana abriga mais uma feira do livro. Ainda bem.
É ano eleitoral e o dia do sufrágio se aproxima num clima hostil permeado por debates mais ou menos rasos. Agora é uma questão de caráter resolver o imbróglio varrendo as hordas obscurantistas do seu púlpito. Porém sei que não acordaremos no outro dia com a casa arrumada. Os neo-fascistas são pegajosos e resilientes. Será preciso estômago para fazer a faxina.
Entre sonhos e sons sigo vivo. Confesso que um tanto quanto confuso ocasionalmente. Cada pessoa segue um ethos particular e nem sempre lógico. Já é lugar comum sentir-se só em meio a multidão, mas é a imagem que me vem à mente.
Escrevo esta crônica nesta tarde de segunda tentando não cair na armadilha do humor cínico ou vomitar conselhos sobre qual é o jeito certo de existir como ser humano em nosso tempo. Deixo isso para os sacerdotes e autores de auto-ajuda (eles têm novos concorrentes, os 'coachs', mas pode-se chama-los de 'roaches', perdão pela piada infame) prefiro tentar digerir os fatos do fim de semana que seguem um tanto quanto nebulosos na lembrança. Anseio voltar a trabalhar em campo, o trabalho no escritório é confortável, mas não estimula o criar. Dá uma sensação de embotamento, prefiro a fluidez das ruas.
Lembrando Buk, me sinto bem não participar de nada, não estar apaixonado e nada esperar do destino. Entretanto soam-me falsas essas palavras. Logo menos ela passará naquela rua com seu vestido vermelho cruzando as pernas como um compasso que desenha o mundo e dá razão à existência deste pobre escriba.
É isso.