Antes que eu me esqueça.
Na glória...
A música sempre esteve presente na minha casa. O meu irmão mais velho — Raimundo — tocava uma sonora Gaita.
Meu cunhado, João Machado, tocava cavaquinho e bandolim. As reuniões, as festas eram regadas com muita música.
Com amigos e familiares eles formavam um conjunto Regional.
Violão, cavaquinho, bandolim, pandeiro, flauta.
Na Glória de Ary dos Santos e Raul de Barros era a música tema. Servia para afinar os instrumentos e vozes.
Tio Zé, antes que eu ouvisse falar em percussão, tirava som de duas moedas entre os dedos e batia uma colher (o talher mesmo) em outra, o que fazia também um som original.
Tio Nó, irmão do tio João, cantava. Ele era profissional. Cantava até no Rádio. Levava-me para os programas de auditório da Rádio Guarani. Contemporâneo de Clara Nunes e Agnaldo Timóteo apresentou-me vários cantores da época, no início de carreira.
Minha irmã, Lúcia, também cantava com uma voz afinada, agradável aos ouvidos. Tia Dina, também irmã do tio João, também dava o seu “show”.
Tio Zé, aquele das moedas, era representante de uma famosa marca de cerveja, então os encontros eram regados com muita cerveja. As festas varavam a noite.
Tio Rafael ensinou-me a amar os Beatles. Nos anos 60 ele tinha todos os LP e compactos que eram lançados pelos meninos de Liverpool. Nas tardes de domingo nos reuníamos na sua casa para ouvir os discos, não podíamos repetir as músicas para não arranhar o disco. Era uma festa, cantávamos e dançávamos sem entender as letras.
Na minha primeira vez que fui à Inglaterra, o meu sobrinho levou-me para conhecer a famosa travessia da Abbey Road. Confesso que chorei!
Eu não aprendi a tocar nada. Aprendi somente a ouvir. Aprendi a ser fã.
Tio João deixou uma herança musical. Carla, sua filha, canta e encanta, acompanhada do seu violão. Os netos Pedro e Izabelle também têm uma afinidade impecável com a música.
*Quando a minha filha nasceu, todos os parentes viraram tio e tias. É assim que eu os chamo, irmãos, cunhados...