A Espera (II)

Parece-me que as pessoas acham que os escritores têm várias respostas para suas perguntas. Têm soluções prontinhas. Têm mais facilidade com os problemas que a vida traz. Não sei, apenas acho isso. Besteira – se elas realmente pensarem assim, claro. Os escritores carregam uma bênção consigo (conseguem passar parte de suas ideias para o papel), vivem do que escrevem (eu creio)... Mas há igualmente uma maldição sobre eles: precisam de publicar novos livros regularmente. É, pois, o seu ganha-pão. E nem sempre as ideias estão disponíveis. Elas nos procuram. A gente (bem, eu sou autor de livros; não ganho dinheiro com eles) tem de esperar elas se manifestarem. G. Rosa, por exemplo, tinha muita dificuldade de escrever. Outros autores real/igualmente grandes também...

Eu escrevi inúmeros livros; ou, antes, um número bem maior do que aqueles que publiquei. Ocorre, no entanto, que grande parte desses livros escritos eu sequer passei para o papel. Simplesmente aguardam em algum canto de meu coração. Ou da mente. Para um dia (será?) verem a luz do dia.