Até o Último Vento...
 
Cismei de nascer sentada. Após esperarem um tempo, os médicos perderam a paciência e resolveram fazer a coisa certa: me deixar chegar ao mundo como queria. Mas minha mãe teve que passar pela cirurgia que retira dos ventres das mães os bebês teimosos. E ela me chama assim até hoje: “Minha teimosa”. Porém, quero deixar claro que a minha mente de bebê não nutria uma teimosia vã. É que eu achava estranho deixar o mundinho em que vivi, por nove meses, de cabeça pra baixo. Queria apreciá-lo como que sentada numa varanda a admirar o vento balançando o verde das árvores, o nascer do sol, o azul do céu e todas as belas coisas que, ainda na barriga dela, ouvia das histórias que lia pra mim e que me encantavam e me faziam adormecer flutuando, como em águas dum lago morno.

Quando o Sr. Destino me avistou na fila dos destinos dos recém-nascidos, foi rápido na sua decisão e disse: “Essa vai ser das Artes. Vai viver em fantasias e sonhos, apreciará as cores,  as luzes, as letras...  - Titubeou por um instante -, e concluiu com um apressado e sincero: ‘boa sorte, pequenina’, você vai precisar dela”! Claro que eu ainda não entendia o que ele queria dizer com suas últimas palavras, porque eu só sabia de amor e levezas que meus pais contavam, mas senti um leve tom de apreensão no que ouvi. Vai saber o que gente grande pensa quando fica sério - minha mente infante imaginou.

Mas o Sr. Destino estava certo com a sua escolha para mim, assim como estava certo com o sábio aviso final. Viver em fantasias e sonhos obviamente não se aplica à realidade. E ninguém assiste à realidade sentado numa varanda, porque nem sempre há apenas o vento balançando o verde das árvores e nem sempre o céu está azul. A única coisa certa, ainda, é que o sol nasce todos os dias...

Ser das Artes é um destino de sonho lindo tanto quanto incerto, é verdade... Entretanto, a alma vive voejando sobre belezas, inda que, às vezes, seus voos terminem em pequenos tombos. Mas são tombos de fazer aprender... e crescer. Como em todo e qualquer destino, aliás.

E eu agradeço por ter sido notada naquela fila e designada para o meu. Se o Sr. Destino me contemplar com a velhice também, continuarei sendo artista... até o meu último vento.
 
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E recebo esse comentário/Interação maravihoso da Poetisa querida
Esther Lessa, a quem agradeço de Alma e Coração! Beijos, Esther!

 
"QUE PRIVILÉGIO, NASCER ARTISTA!
QUE DÁDIVA, A SENSIBILIDADE PARA AS BELEZAS ÓBVIAS
E AS NEM TANTO ASSIM!
QUE ALEGRIA, NO DOCE MISTÉRIO DA PERCEPÇÃO FUNDA!
QUE REGALIA, A VERDADE DA EMOÇÃO CONTINUADA!"
 
"DITO ISSO, ME CONGRATULO COM TODOS OS QUE HABITAM O MUNDO À PARTE, QUE É MEU TAMBÉM! DITO ISSO, ME JOGO NAS ARAGENS, QUE ME LEVAM A PARAGENS DE FINO ENCANTO...DITO ISSO, ME COLOCO À MARGEM DAS TRAGÉDIAS INFINITAS, PARA INTEGRAR O ELENCO DOS QUE, POR MOMENTOS, VIVEM  E  SE DELEITAM COM SUA ARTE! BEM-VINDA, QUERIDA IRMÃ DAS LETRAS, IRMÃ DAS ARTES, IRMÃ DAS BELEZAS, OCULTAS OU NÃO, IRMÃ DA SENSIBILIDADE!  ELA, A ARTE, NOS LIVRA DOS DESATINOS! E TEM DEUS NELA ! PARABÉNS! DEUS A ABENÇOE! BEIJOS!"
(Esther Lessa)
 

 
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Foto e Máscaras: Marise Castro - Modelagem com gesso em tiras, tecidos diversos




 
Marise Castro
Enviado por Marise Castro em 20/08/2022
Reeditado em 27/08/2022
Código do texto: T7586886
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