Velhos tempos...
Essa minha amiga já tão distante no tempo e no espaço, faz-me recordar a juventude vivida em meu torrão natal, Picos do Piauí.
Esses dias estive contando. Esses dias de 2022, estive falando sobre uma peça teatral que apresentamos no Cine Spark (acho que é assim que se escreve o nome do cinema de Picos, se não for, perdoem-me. Tenho dificuldade com língua estrangeira.)
Pois bem, vendo este rosto tão conhecido, recordo-me de um episódio dos anos setenta, quando apresentamos a peça do folclore piauiense, intitulada
"Cabeça de Cuia"
Corria o ano de 1971. (Eu acho)
Tínhamos feito um curso intensivo de arte cênica no colégio das freiras, com Francisco José, um jovem chegado de Fortaleza.
Todos éramos jovens.
O mais velho não tinha vinte anos.
Muitos dias depois de encerrado o curso, ia eu passando de bicicleta de frente ao Cinema, quando Gaída (Margarida Fernandes) do alto de seu entusiasmo jovem me acenou.
Parei.
Subia os degraus que davam acesso ao Cine Spark, e logo ela foi-me dizendo: Daqui a pouco vamos apresentar o "Cabeça de Cuia". Falta um personagem. Você faz?
Fiz.
Eu era o Cabeça de Cuia a contracenar com Mariazinha.
Tomei de um osso corredor(ossobuco) que já estava dentro de uma tigela de pirão quente. O personagem deveria simular uma pancada com o osso na cabeça da mãe do pescador, representada por Mariazinha.
O osso escorregou e a pancada foi real. Na lenda, a mãe do pescador Crispim, morreu.
Já na representação, a personagem Mariazinha sobreviveu, e mais tarde casou-se com Ozildo
Cinquenta anos depois contei essa história a Ozildo Barros.( Aqui deixo o nome de Ozildo Batista de Barros. Pesquise na Internet o nome dele e economize meu tempo de descrevê-lo)
Então, Ozildo me disse: "Nunca soube disso. É tão real que tornou possível meu encontro com o verdadeiro Cabeça de Cuia.
" Quando o rio em cheia ele desce, Cabeça de Cuia sempre aparece"
Arrenego! Deus me livre de pagar por esse erro, subindo e descendo, as águas do Parnaíba ou Poti. Não sei em qual desses rios Cabeça de Cuia aparece. Ambos os rios cortam a capital Piauí.
Depois conto mais.
E, para não dizerem que minto:
CABEÇA DE CUIA
"Conta a lenda que certo dia, chegando para almoço, sua mãe lhe serviu, como de costume, uma sopa rala, com ossos, já que faltava carne na sua casa frequentemente.
Nesse dia ele se revoltou, e no meio da discussão com sua mãe, atirou o osso contra ela, atingindo-a na cabeça e matando-a. Antes de morrer sua mãe lhe amaldiçoou a ficar vagando no rio e com a cabeça enorme no formato de uma cuia, que vagaria dia e noite e só se libertaria da maldição após devorar sete virgens, de nome Maria. Com a maldição, Crispim enlouquecera, numa mistura de medo e ódio, e correu ao rio Parnaíba, onde se afogou.
Seu corpo nunca foi encontrado e, até hoje, as pessoas mais antigas proíbem suas filhas virgens de nome Maria de lavarem roupa ou se banharem nas épocas de cheia do rio. Alguns moradores da região afirmam que o Cabeça de Cuia, além de procurar as virgens, assassina os banhistas do rio e tenta virar embarcações que passam pelo rio. Outros também asseguram que Crispim ou, o Cabeça de Cuia, procura as mulheres por achar que elas, na verdade, são sua mãe, que veio ao rio Parnaíba para lhe perdoar. Mas, ao se aproximar, e se deparar com outra mulher, ele se irrita novamente e acaba por matar as mulheres. O Cabeça de Cuia, até hoje, não conseguiu devorar nem uma virgem de nome Maria."
CRÉDITOS:
Adalberto Lima.
Imagem: Margarida Fernandes
Texto da lenda https://www.sohistoria.com.br/.../www.../lendasemitos/cuia/ Acesso em 20.08.2022