A arte de viver

Manhã de sexta-feira. Levanto-me com o corpo pedindo um pouco mais de descanso. Olho o celular e posso descansar uns minutinhos mais. Prorrogação máxima. Enfim levanto e me apronto para começar mais um dia.

As experiências de ontem e dos sonhos ainda circulam pelo meu ser. As histórias das pessoas que se misturam com as minhas precisam terminar de serem arquivadas. Meu olhar está ainda voltado para dentro, necessito de um pouco mais de silêncio para ouvir o sussurrar das últimas coisas se engavetando. A brisa fria da manhã encontra meu rosto. Está um dia acinzentado. Dirijo-me ao consultório para receber as pessoas agendadas para hoje. Minha profissão? Auxiliar da visão. Profissão bonita que acompanha as pessoas na peregrinação por uma mudança de óculos ( armação) ou ajustes nas lentes.

Creio que nascemos com uma predisposição para focar e apreender as experiências vividas com um determinado foco/enfoque, e vamos registrando-as a partir disso. Chamamos isso de verdade/realidade do sujeito. Assim, podemos explicar o fato de um mesmo acontecimento poder ser percebido por diferentes pessoas de diferentes formas. Donde podemos compreender a importância do autoconhecimento que consiste em corrigir, ampliar ou aprimorar a arte de ver. Quem já foi a um oftalmo sabe/entende que as perguntas nos geram ansiedade: assim ou assim? Este? Ou este? Melhora ou piora? E assim, a pessoa vai reeditando fatos/fotos e reconstruindo sua história passada, atual e futura. Mas por que essa arte de ver é difícil? Porque as lentes iniciais distorcem fatos e ou focam em determinadas partes em detrimento do todo. Nossa lente é incapaz, a princípio, de ser imparcial. O exercício de aprender a ver requer desaprender para aprender de novo, não para sempre, mas a cada instante que somos convocados a ver. É um exercício de estar vivo e alerta sem tempo passado e sem futuro, colhendo todas as impressões e permitindo que só registros de agora se façam. É entender que cada dia é único e seu aprendizado/olhar que vê também! A arte de ver requer disponibilidade, mente vazia para que a poesia se faça de todas as formas e passando por todos os nossos sentidos. Respiro fundo. É hora de colher o dia. A campanhia toca. É hora de pintar novos quadros- arte de ver compartilhada.

Renata

Renata Borges da Costa
Enviado por Renata Borges da Costa em 19/08/2022
Código do texto: T7586147
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