O CAFEZINHO DE MARIA

   Recordo de um fato bem interessante quando morava no interior. O cheirinho do café entrou pelas minhas narinas naquele meio de tarde enquanto descansava numa rede instalada na varanda da antiga casa em estilo colonial, pertencente ao meu avô por parte de mãe, mas que estava sob os cuidados da gente, ou seja, eu, meus pais e meus irmãos, além da empregada da família, Maria, excelente profissional da cozinha e que estava com meus avós desde quando era mocinha. Meu avô se encontrava enfermo no primeiro quarto do casarão, era mais arejado, minha avó estava sempre do seu lado, não deixava faltar nada prá ele, ambos já beirando a casa dos oitenta, porém lúcidos. Sim, mas voltemos ao cheiro do café, ele quase me tirou da rede, mas lembrei-me que Maria sempre trazia uma xícara do saboroso líquido preto que só ela sabia fazer. Dito e feito, lá vinha ela apontando no final da varanda onde ainda se via a fumaça do danado saindo pela janela que dava para a frente desse imóvel tão gostoso de morar.

   Nós fomos morar nessa pacata cidade do interior, lá nas brenhas mesmo, eu particularmente adorei, era um garoto que tinha ainda doze prá treze anos quando nossos avós nos convidaram para ir morar com eles, o patriarca andava meio adoentado e minha mãe se preocupava muito com ele, visitava quase todo mês, até que finalmente ficamos juntos de vez, a família era muito unida. Maria era praticamente quem resolvia tudo na casa, estava na faixa dos seus quarenta e poucos anos e nunca se interessou por homem nenhum, desde que foi enganada por um rapaz que queria a todo custo tirar a sua virgindade, isso ainda quando tinha quatorze para quinze anos, eu nem era nascido ainda. Foi o tempo que meu avô se apiedou dela e a colocou em sua casa, onde passou a morar em definitivo.

   Maria chegou com uma xícara de café quente de queimar a língua, na rede mesmo sorvi aos goles o cafezinho feito por ela, uma delícia, ainda ganhava uns biscoitos que também eram feitos ali mesmo. Nessa época eu já era um adolescente e curtia aquela vidinha com bastante tranquilidade. Com o tempo meu avô faleceu e meses depois foi a vez da minha avô e Maria continuou ali praticamente como um membro da família.

Moacir Rodrigues
Enviado por Moacir Rodrigues em 19/08/2022
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