A ÁRVORE DO ENFORCADO
De todas as histórias que se contam a respeito de meu pai, respeitável João Thomaz, esta chega até a dar certo arrepio no carretel da espinha. De uma feita, foi comprar mantimentos no vilarejo e ficou impedido de voltar para casa por conta de uma tempestade que quando amainou já era noite feita. Os compadres o desencorajaram de voltar por conta da árvore do enforcado. Mas não teve jeito.
A árvore do enforcado! Segundo consta, uma gameleira frondosa deitou seus galhos para o lado da estrada e em tempos idos, quem sabe por causa de uma desilusão amorosa ou uma dívida de jogo, sabe-se lá, algum infeliz teria acabado os seus dias balançando na ponta de uma corda justamente no galho que pendia sobre a estrada. Desde então aquele local ganhou contornos místicos e toda sorte de sortilégios se fazia ao pé daquela árvore. Bastava o vento bater mais forte e por todo lado se ouvia uma espécie de lamúria fantasmagórica. No imaginário popular, a alma do suicida vagava em busca de consolo e perdão, desafiando a coragem dos caboclos do sertão.
Quanto mais se aproximava da tal árvore mais o animal diminuía o passo. Mesmo instigado, refugava. Por fim empacou de vez resfolegando e escarvando a terra como se contemplasse o sobrenatural. Noite escura, farfalhar de asas de pássaros noturnos, tudo conspirava para que se arrependesse dessa empreitada. Mas agora não tinha mais volta. Acossado sem piedade nas ancas a besta empinou nos inferiores, deu um salto formidável para o desconhecido, deixando o cavaleiro como que suspenso por mãos invisíveis e os víveres todos esparramados pelo chão.
Apesar do susto tremendo, João Thomaz se recompôs, desvencilhou-se dos galhos partidos pela tormenta, apanhou o chapéu, ajeitou os suprimentos no jacá, tranquilizou o baio e retornou para casa sem mais sobressaltos. No dia seguinte, à beira de um fogão à lenha, todo lenhado, narrava o fato envaidecido. Eis porque em toda região do Goiabal (MG) não havia homem mais celebrado por sua coragem e destemor do que João Thomaz. Eis aqui meu tributo.