CARROÇA DE LENHA

 

De dois em dois meses nos chegava, em frente à casa, uma carroça de lenha, que usávamos no fogão para o preparo dos alimentos e para aquecimento da grande cozinha de nossa casa de Curitibanos – SC. O carroceiro apenas descarregava sua carga na calçada, recebia o pagamento e ia embora. A difícil tarefa de levar tudo para a edícula, nos fundos da casa, ficava por conta de papai, de meu irmão Beto e eu. Era um trabalho bastante pesado para nossa idade. Usávamos uns balaios grandes dos quais já íamos tirando as achas e empilhando contra a parede. Muitas vezes encontramos aranhas, escorpiões e outros pequenos insetos que vinham com a lenha. Ao final do trabalho, estávamos sujos, com as mãos ásperas ou feridas e cansados.

 

Da edícula, a lenha era levada diariamente, para a “caixa de lenha”, ao lado do fogão, uma espécie de banco, com tampa e encosto onde, no inverno, disputávamos um lugar para nos esquentar.

Essas tarefas eram penosas, porém tinham compensação. A lenha queimando nos aquecia e ali mamãe preparava uma saborosa comida caseira, cozida lentamente, e os tachos de doces que tanto alegraram nossa infância e juventude.

 

Bracatinga era a espécie mais usada para corte e era a que vinha na carroça. Outras árvores nobres eram proibidas. A Bracatinga é uma árvore de pequeno porte e crescimento rápido, muito comum na região. Além da lenha do carroceiro, usávamos galhos de araucárias e gravetos de outras árvores de nosso quintal, que caiam durante tempestades e ventanias e papai cortava com machado. Mas não havia nada mais eficiente para começar um fogo do que as grimpas secas de pinheiro que catávamos embaixo das Araucárias.

 

Certa vez estive hospedada na casa de um casal jovem na zona rural de Bragança Paulista. Na casa, recém adquirida, havia um belo exemplar de fogão a lenha que, pelos novos proprietários, não havia sido usado. Como as noites eram muito frias, sugeri que fizéssemos fogo. Ficaram indecisos e me disseram que não sabiam usar o fogão. Eu lhes disse que deixassem comigo. Fui ao quintal, apanhei gravetos secos, alguns galhos maiores e grimpas de araucárias que havia no local. Arranjei tudo no fogão, primeiro as grimpas, depois pequenos gravetos e, por cima, alguns pedaços de galhos secos não muito grossos. Acendi um fósforo, aproximei-o das grimpas... et voilà! Gostoso foi ouvir aquele crepitar tão familiar e a aprovação dos donos da casa.

 

Nessa hora, enchi-me de orgulho por ter adquirido o know-how naqueles tempos de vida difícil do interior. Hoje, tenho fogão a gás, elétrico e de micro-ondas. Entretanto, ainda sei acender um fogo, na primeira tentativa, em um daqueles de cimento e ferro de antigamente.

 

Aloysia
Enviado por Aloysia em 16/08/2022
Reeditado em 16/08/2022
Código do texto: T7583751
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