Sandoval Caju e a história da Rádio Tabajara
Acabei de ler o livro “O Conversador”, de Sandoval Caju, paraibano filho de Bonito de Santa Fé, onde veio ao mundo em 16 de novembro de 1923. Voltou ao pó primordial no dia 23 de maio de 1994, aos 70 anos, sacrificado pela senilidade e pelos cigarros Continental sem filtro, aniquilado por câncer de pulmão. Sandoval foi adepto da filosofia de Santo Isidoro de Sevilha: “Aprenda como se você fosse viver para sempre. Viva como se você fosse morrer amanhã”. O livro que li, do acervo de minha biblioteca particular, tem dedicatória do autor para a esposa do seu padrinho de crisma, o que torna esse exemplar inestimável e de grande valor histórico.
Sandoval Caju saiu da Paraíba e foi tentar a sorte no Rio de Janeiro, antiga Capital Federal, onde seu variado talento não foi reconhecido. Voltou a João Pessoa e mandou rodar um cartão de visitas: “Sandoval Caju, locutor da Rádio Relógio do Distrito Federal”. Com essa credencial, apresentou-se na Rádio Tabajara da Paraíba e arranjou vaga de locutor. Ninguém percebeu a pilhéria de Caju, porque na realidade a Rádio Relógio só informava a hora, apenas a hora certa, durante 24 horas. Não havia locutor na Rádio Relógio. Com essa vivacidade e imaginação, Caju se tornou um dos maiores radialistas do Nordeste. Ele conta que, vivendo em Maceió, Alagoas, arranjou licença de três meses para tratamento de saúde. Foi visitar sua querida Paraíba, onde muita gente conhecia seu trabalho pelas ondas hertzianas da Rádio Difusora de Alagoas. Aceitou o convite de Carmelo dos Santos Coelho, Diretor Geral da Rádio Tabajara, à época, para assumir a função de Locutor Chefe da emissora oficial do Estado. “Minha temporada tabajarina foi inesquecível, pelo excelente relacionamento que mantive com os companheiros naquela estação de rádio paraibana e as boas amizades que fiz no seio das mulheres ouvintes do programa “Página poética” e a conexão com as pessoas do povo no meu programa bacurau “Papo noturno”, confessa Caju em seu livro. Não sei o que ele quis dizer com essa gabolice de que fez sucesso no seio das mulheres, dado seu jeito irreverente, espirituoso e repentista de ser. O fato é que Sandoval Caju fez muito sucesso em João Pessoa e Maceió, principalmente nos programas de auditório. Na Difusora de Alagoas, ele comandava o programa “Palito de fósforo”, o espetáculo mais incendiário do rádio naquela época.
Na Rádio Tabajara, ele também apresentava o programa “Quartel General do Rádio”. O jornalista Pedro Macedo testemunhou: “Como locutor e animador de auditório, gozando de grande prestígio popular, aproveitou os espaços que os seus programas ofereciam e fez vitoriosa carreira política”. Durante a campanha, ia para as praças todo vestido de branco e, de cima de um caminhão, começava seus discursos com a seguinte frase:
– “Vim de branco para ser claro!”
E tanto foi de branco e tanto foi claro que acabou ganhando as eleições e se elegendo prefeito de Maceió, nas eleições de 03 de outubro de 1960. Com o golpe civil-militar de abril de 1964. Sandoval Caju foi cassado e deixou a Prefeitura no dia 08 de abril daquele ano. Seus direitos políticos somente forma restabelecidos em janeiro de 1979.
Ainda conforme Pedro Macedo, em entrevista para o Diário de Pernambuco de 21 de fevereiro de 1978, Sandoval contou que nos dois anos imediatamente após a cassação passou por “muitas necessidades”: “E o pior que não podia exercer a minha única profissão, a de advogado, por consequência revolucionária. Alguns débitos contraídos por mim foram pagos pelo meu pai, que veio da Paraíba”.
Sandoval Caju jamais se considerou locutor de rádio profissional. No livro, ele confessa que já estava “cheio” de fazer o papel de “artista” que “não era, não fui e nem sou”. Enjoado de “fazer rádio”, Sandoval demitiu-se da Tabajara em 1951. Foi para Maceió batalhar outro meio de vida e acabou voltando aos microfones. É como eu digo: radialismo é paixão, é cachaça, é doença da qual ninguém se reabilita. Hoje em dia, quando eu sento na bancada desta mesma Rádio Tabajara para fazer nosso programa sabatino “Alô comunidade”, me vejo nessa condição de amador, dividindo minhas ideias com os ouvintes sem necessariamente ser profissional do microfone. Amador, no dicionário: aquele que ama o que faz, entusiasta de sua atividade, sem interesse monetário.