SOLITÁRIOS

As pessoas são como emaranhados de frases soltas. Não se consegue juntar as frases para termos textos escritos e coesos, que podem ser lidos por jovens e velhos separados por longos espaços de tempo. As frases soltas só fazem sentido naquele momento efêmero, para um grupo sempre muito restrito.

Não é como se qualquer um, quando cansado da convivência não sentisse a mesma coisa e conseguisse rabiscar o mesmo parágrafo fajuto e com as mesmas intenções. Talvez, o que diferencie as situações, seja o fato de parecer que sempre alguém não se encaixa em lugar nenhum, mesmo amando as circunstâncias individuais, os espaços, o trabalho, a comida e as escolhas... Lá está ele, sem criar laços.

A maldição de sempre perdura por mais um sempre: sempre, sempre e sempre longe das outras pessoas. A alma perdida zanzando pelas frases soltas sem sentir-se à vontade. O que é estúpido, pois sente-se à vontade consigo mesmo, no entanto, jamais com os outros.

Quando abre-se uma página e não se consegue entender nenhuma. Quando se quebra um copo de vidro e não se consegue voltar ao copo original seguindo o caminho reverso. Quando se acende um cigarro e se fuma o esqueiro. Quando se pensa em alegria e não se vê uma sala cheia de amigos. É melancólico o espírito vivo preso a coisas tão belas e inteligíveis, mas a nenhum ombro camarada.

E os inomináveis, que estão sempre evitando ou sendo evitados vão se distraindo com o quê? Se a companhia dos laços criados fora do núcleo primordial afagam a vida e difratam o caminho do estresse profundo, resta-se apenas a novela interminável da vida alheia, cheia de perguntas e poucas respostas, cheia de nuances que talvez nunca sejam vividas pelos mais sozinhos.

Se há uma espécie que precisa de companhia essa, certamente, é a humana. Todavia, lá estão alguns montinhos, sentados em algum plano, pensando nos outros- que nunca serão seus companheiros, mas que são companheiros entre eles- e enumerando situações que os fizeram mais sozinhos, provavelmente, chegando na conclusão que o problema não está na vida que levam, nem nas coisas que amam, nem na personalidade que cativam.