FREUD EXPLICA

Tenho tido um sonho recorrente. Por duas ou três noites me vejo em um quarto de hotel muito desarrumado. Há roupas e papéis pelo chão, a cama em completo desalinho, malas abertas, embalagens e restos de alimentos sobre a mesa. Saio do hotel e ganho a rua. É noite, a cidade muito iluminada. Certamente, não estou no Brasil, parece-me uma cidade europeia, com casas, sobrados e pequenos prédios antigos, não recuados da rua, tudo fechado. A via está deserta, não encontro vivalma. Apesar de serem antigas, as construções são bonitas e bem conservadas. Das cidades europeias que conheço, tanto pode ser na França, Espanha ou Áustria. Ando por vários quarteirões, a paisagem é desconhecida para mim. De repente, me vejo perdida, não sei mais como voltar ao hotel e não encontro uma única pessoa que possa me orientar. Começo a ficar com medo e acordo sobressaltada, angustiada.

Lembro de minha avó Mariquinha que era muito supersticiosa e logo iria querer interpretar o sonho...ou pesadelo? Vovó costumava também jogar no Bicho e sonhos com números ou animais lhe interessavam sobremaneira. Anotava o nome do bicho ou o número e corria à banca fazer uma fézinha. Frequentemente ganhava uns trocados. Porém, neste sonho, não há animais e nem números.

Eu, que não sou supersticiosa e nem jogo no Bicho, não dei importância ao sonho mas fiquei deveras intrigada com a bagunça do quarto da hospedaria. Nem quarto de hotel sou capaz de bagunçar, só tiro da mala as roupas que podem amassar e as penduro nos cabides do guarda-roupa. Não jogo nada no chão e até a cama procuro deixar mais ou menos em ordem. Sigo até hoje os conselhos de mamãe que me ensinou a arrumar a cama e manter o quarto asseado, desde bem pequena. Aliás, quando criança eu brincava com minhas bonecas e outros brinquedos e depois que cansava juntava-os todos em uma caixa de papelão que ficava a um canto do meu dormitório.

A maioria das crianças não age assim. Freud daria uma explicação sobre minha personalidade e também ao meu sonho.