LEANDRO, O ARAUTO DOS SERTÕES

LEANDRO, O ARAUTO DOS SERTÕES

O Cordel é "filho de muitos Senhores" porém, se tem um nome que 'fincou ponto" entre os maiores cordelistas, estes foi certamente LEANDRO GOMES DE BARROS. Nascido em Pombal, na Paraíba, em 1865, fez fama e história em várias cidades nordestinas, principalmente Recife. Cansado de exploração que se fazia dos repentistas e autores de Cordel a partir de Editoras e "Typographias" dos 1800, Leandro não demorou a comprar uma gráfica para produzir seus cordéis e fugir das garras de espertalhões e oportunistas. Mesmo assim, após sua morte em 1918, alguns "Editores" imprimiram Cordéis de Leandro "trocando a autoria", como se fossem obras deles.

Na sua curta existência de 53 anos o famoso Autor lançou mais de 600 obras -- falando de absolutamente tudo -- e tornou-se um dos mais brilhantes e conhecidos cordelistas, cantado e lido no Brasil inteiro. A Política daquela época e a situação do povo foram seus temas principais, mas o "repórter dos sertões" falou sobre fiscais corruptos, o preço do feijão, a seca no Cará em 1915, eleições e reproduziu em versos Romances famosos daqueles tempos e também filmes de sucesso.

Repriso abaixo breves trechos de 3 ou 4 Cordéis, apenas para provar ao leitor que -- CEM ANOS depois -- o Brasil pouco mudou. Foram "baixados" do acervo digital da Fundação CASA RUY BARBOSA que, felizmente, tem em seus arquivos quase 9 mil Cordéis (que o "Bozzo" não me ouça !) e no livreto de código LC7038 um "retrato atual" do Brasil, que não muda nunca. (Acessar... antigo.casaruibarbosa.gov.br/cordel/poeta.html )

"O Brasil de hoje está

figurando uma panela.

POLÍTICA -- cozinheira --

está tocando fogo nela

mas tem mil mortos de fome

por ali, ao redor dela.

OLHA AÍ, este trecho (de 1917 ?) de "O Povo na Cruz":

"O Rio de Janeiro hoje

parece um grande condado.

Ri-se o rico, chora o pobre

lamentando o seu estado.

Diz o Governo: -- "Eu vou bem,

tudo vai do meu agrado" !

Vejam como é ATUAL este outro, sobre a seca no Ceará, em 1915:

"Santo Deus, quantas misérias

contaminam nossa terra.

No Brasil ataca a seca,

na Europa assola a guerra.

A Europa ainda diz:

-- "O Governo do país

trabalha pro nosso bem" !

O nosso -- em vez de nos dar --

manda logo nos tomar

o pouco que a gente tem.

É tempo de "descobrir" a extensa obra de Leandro Gomes de Barros, que devia ser matéria de muitas Escolas, "jornal do sertão" que seu Cordel sempre foi. Ao menos para reconhecer que, em matéria de Governo, estamos sempre mal servidos, "ao Deus dará", como se dizia.

"Os habitantes procuram / o Governo Federal, / implorando que os socorra / naquele terrível mal. (...) O dinheiro é tão sabido / que quiz ficar escondido / nos cofres dos potentados. / Ignora-se esse meio ! / Eu penso que êle achou feio / os bolsos dos flagelados". DÁ-LHE, LEANDRO !

"NATO" AZEVEDO (em 4/julho 2022, 21hs)