Pai antes de tudo

 

         Mas somente após a mãe. No entanto, existem suas duas pessoas amadas, nesse mundo, que merecem louvação: A mãe e o pai. O da mãe foi um dia desses, louvadíssima, e vem, no próximo domingo, o Dia dos Pais. Não deem a ele um celular como presente. Primeiramente é muito caro, e também porque receberá em troco ele ocupar, sem apreço, os momentos que deveriam ser dos filhos, deixando de ser pai. Já passa o dia no trabalho com esse atrapalho, e, à boquinha da noite, entrega-se à rede e ao celular. Às vezes, já no caminho, ainda voltando para casa, abalroa o carro por causa do telefone, mostrando-se os chamados no whatsapp. Trocando em miúdos, como aqueles assuntos fossem de suprema importância e justificassem as batidas e imprudências no tráfego, uns chegando até a morte. É, o celular não parece ser um bom presente. Contudo o pai merece louvação.
          Quando ele chegar em casa ou acordar no domingo, mesmo com o já bem usado telefone, ele mal escutaria as louvações merecidas, no seu dia. Um novo aparelho logo seria tratado com maior apreço, frustrando quem tivera essa péssima ideia: dar ao pai um celular mais atraente e mais possante 5G. Sabem os filhos as diferenças entre o pai de antes e de depois dessa desnecessária parafernália, que logo se impõe como necessária. Não é um acessório, tem sido uma tralha, inesperadamente armada pela tecnologia, para fisgar quem andava tão atencioso à natureza, à família, à mãe e sobretudo aos filhos... O obcecado pelo celular, quando algum filho em casa lhe dirige a palavra, logo escuta: “Peça à sua mãe”, que às vezes atenderia, se não estivesse também ao celular. Contudo, ambos continuam a merecer louvação, mesmo detentos pelo uso constante do celular, levando os filhos ao mesmo caminho. Somente espirro ou tosse barram, por segundos, essa fixação por tão pequena coisa.
          Os pais estão, acima de tudo isso, interrompendo as relações mais do que sentimentais com os filhos, que devem a eles a existência, consequente da vida. Filosofa-se também a relação lógica entre pai e filho, na bicondicionalidade: Ele é meu pai se e somente se eu for seu filho, o que se pode comutar para: Eu sou seu filho, se e se somente ele for meu pai. E ainda, dedutivamente, desmembrar tais sentenças na conjunção de duas condicionais: Se eu for seu filho, então ele é meu pai e se ele é meu pai, então eu sou seu filho.
          Haja, portanto, no Dia dos Pais, muita louvação. E talvez alguns presentes, livrando-os do frenesi das falsificações, como sapatos de papelão, tecidos que desbotam ou grifes sofisticadamente falsificadas e nunca caixinhas de fakenews. Se possível se presenteie ao pai uma sincera louvação, motivando glória àquele que acredita  amar o filho, alegrando o pai igual ao padeiro, quando aprecia o pão nas suas mãos. Nossas boas qualidades vieram dos nossos pais, marcantes, indeléveis ou como bem acertou o profeta Jeremias (
31, 29): “Os pais comeram uvas verdes, e os dentes dos filhos é que se embotaram”...