DIÁRIO DE UMA PANDEMIA (Dia 24; Dia 25; Dia 26)
Dia 24
15 de agosto de 2026
Foi prazeroso, hoje de manhã, ver os noticiários mostrando que meu produto, em solo chinês está prosperando.
Eu o criei, não para atender às necessidades dos pobres, mas para alcançar os ricos. Afinal, não são os pobres que visitam outros países e deles compram coisas e para lá enviam seus produtos?
Então o meu produto vai se espalhar pelo mundo, como um produto chinês. Só eu sei que é “made in Rondônia”. Entretanto, como não estou cobrando o registro da patente, meu produto será conhecido pelo mundo como algo que se originou na China.
Quase como se fosse um “negócio da China”.
Por isso o meu produto foi para a China na mala diplomática, sem que os integrantes da comitiva presidencial soubessem o que estavam levando.
Aliás nem sabiam que estavam levando um produto não declarado! Só que o meu produto não seria descoberto, como aqueles tantos queilos de cocaína, no avião presidencial!!!
Sendo um “produto da China” as elites do mundo vão disseminá-lo por todo o mundo, pois, atualmente, qual nação não faz transações comerciais com os chineses?
E, o meu produto será exportado, sem que se perceba, pois muitos compram produtos da China, sem desconfiar que seu ponto de origem está noutro canto do mundo.
É triste ter que tomar essa decisão, mas meu produto, destinado aos ricos, não chegaria a todas as nações se fosse destinado aos pobres.
Onde alguém já viu um pobre comprando passagem de avião e fazendo comércio com outros países?
Essa é a força do meu produto: ser destinado aos ricos e difundido pelos ricos.
Dia 25
Hoje estive analisando a disseminação do meu produto em várias nações.
Observei, também seus efeitos e a reação dos governos.
Vendo isso me vi a pensar nos grandes erros tanto da ficção como da vida real. Todos os loucos que pretenderam dominar o mundo, invariavelmente usaram a força e inúmeros quadros de apoio.
Mas todos falharam! E sabe porque todos falharam? Queriam ser os donos do mundo!
Com os impérios da Mesopotâmia foi assim, mas desapareceram. Deixaram vários legados, mas aqueles impérios poderosos… desapareceram!!!
Os romanos pretenderam isso, mas falharam, pois mal dominaram partes da Europa, da Ásia e da África. A degradação moral e a corrupção os matou!!!
Alexandre cai nessa emboscada e morreu tentando expandir seu império, em direção ao Oriente. Morreu tentando!!!
Napoleão foi derrotado pela enormidade do seu território. Seus adversários europeus e o gelo dos russos tiraram proveito de sua extensão territorial…
Com Hitler não foi diferente……
Mas o mundo não é para ser dominado ou conquistado, transformado em propriedade de alguém… que o explorará, contra o restante da população!
Não, o mundo não é para ser dominado: Ele precisa ser destruído!!!
Nosso mundo está girando numa espiral dialética e nele a tese e a antítese se digladiam até que um dos lado supere o outro e se organize uma síntese.
Foi assim que o mundo feudal que, dialeticamente involuiu numa antítese grotesca, que se arrastou do Renascimento até a Revolução Francesa. O resultado foi esse “monstro sist arretado”, como disse Raul; essa síntese diabólica ao qual damos o nome de sistema capitalista, o assassino do momento, querendo dominar o mundo.
Assim sendo, este momento histórico pede sua antítese.
O problema é que se manifesta nos corredores e dobras da história é sempre esse. Alguém querendo dominar. Sempre que olhamos a história nos deparamos com isso. Um jogo dialético, pelo qual a síntese do mundo mau, ao longo do tempo, sempre foi produzir mais maldade.
Isso tem que ser freado!
Então, a solução para nosso mundo não é a superação ou avanço dialético, mas o aniquilamento. Aniquilamento total!
Fazendo a contagem finalidade, como aquela musica da banda Europe:
“We're leaving together
But still it's farewell
And maybe we'll come back
To Earth, who can tell?
I guess there is no one to blame
We're leaving ground (leaving ground)
Will things ever be the same again?
It's the final countdown”
(Estamos indo embora juntos
Mas ainda assim é uma despedida
E talvez a gente volte
Para a Terra, quem sabe?
Acho que não há ninguém para culpar
Nós estamos saindo do chão
Será que algum dia as coisas serão iguais novamente?
É a contagem final)
Portanto, não deveriam, todos esses personagens da história, ter tentado dominar o mundo.
E esse tem sido o erro dos conquistadores: a vitória de um sobre o outro produz o derrotado, que vai alimentar desejos de vingança.
O Japão destruiu Pearl Harbor em represália a agressões que alegava ter sofrido. A vingança norte-americana foram as bombas atômicas!
Na guerra fria não foi diferente: os americanos fabricavam uma arma os soviéticos fabricavam outra…
Esse e assim é o nosso mundo, baseado na superação do mais fraco pelo mais forte que passa a dominar e explorar o vencido. Mas, dialeticamente, esse domínio gera o dominado que não se acomoda na posição de dominado e se rebela. E da rebelião, que é um nome pomposo para a vingança do dominado sobre seu dominador, nascem os conflitos… e quem paga o preço são as pessoas!
Então a solução é a destruição. O mundo tem que ser destruído!
E isso o meu produto vai fazer: destruir nosso mundo, nossos valores. Sobrará o planeta e nele a natureza dará um jeito de produzir algo diferente. Algo novo. Algo bom.
As pessoas e as sociedade não se deram conta de que a natureza é maior que o ser humano. A natureza e o planeta são maiores e mais fortes que o mundo humano.
E para fazer o que estou fazendo, não precisei de exércitos nem de vultosas quantias em dinheiro nem de corromper ninguém.
Apenas tirei proveito de situações e amizades
Usei um presidente deslumbrado e contatos de amizade.
No mais, fiz tudo sozinho.
E sem alarde, pois não pretendo dominar.
Apenas aniquilar! Destruir!
Dia 26
20 de agosto de 2026
Mais um dia chegou ao fim.
Acabo de chegar da casa de minha vizinha.
Hoje ela comentou sobre o acidente em que morreu seu esposo.
Chorou, ao final da narrativa.
Recostada em meu ombro, contou como ainda é hostilizada pelos parentes do falecido: Eles insinuam que ela tem algo a ver com a morte do esposo. Fazem ligações entre sua morte e um seguro de vida contratado pelo marido alguns meses antes do acidente.
Entretanto, do meu lado nada disse a ela sobre a minha situação: minha esposa também morreu de uma forma que posso chamar de acidental. Feriu-se em uma agulha contaminada que eu havia trazido do laboratório do hospital, para meus estudos pessoais.
Sei que não é correto trazer lixo hospitalar, mas de que outra forma poderia conseguir amostras para meus estudos sem chamar a atenção para o que estava realizando?
Claro que ninguém relacionou sua enfermidade, que se manifestou tempos depois, com a agulha contaminada que eu trouxera. Principalmente porque ninguém sabe que eu trouxe aquela amostra.
O fato é que hoje não pude ver os noticiários.
Muito melhor a companhia de minha vizinha.
De mais a mais, já está repetitiva a informação a respeito de um vírus que está presente em várias partes do planeta e se espalhando cada vez mais. Levando consigo uma enfermidade até então desconhecida.
O avião é uma benção para a difusão de tudo.
Graças às pessoas que podem voar, meu produto pode ser levado para os mais diferentes países.