BRASIL, PAÍS DA MISCIGENAÇÃO
Apesar do pequeno período de tempo desde a chegada dos estrangeiros ao solo brasileiro, pouco mais de 500 anos, podemos afirmar, sem sombra de dúvida, que somos o povo que detém a maior miscigenação do planeta, superando em muito todos os demais.
Basicamente todos nós temos ancestrais dos europeus, africanos, asiáticos e dos ameríndios que já habitavam o Brasil antes da chegada desses povos, conforme ficou demonstrado na obra Casa Grande e Senzala do Sociólogo Gilberto Freire e valorizada na obra do Antropólogo Roquette-Pinto.
Os europeus encarregados dos primórdios da colonização, já trouxeram parte dessa miscigenação vez que a Península Ibérica esteve sob domínio árabe por mais de 700 anos. Aqui, seguindo o arraigado conceito português de que “a colonização começa na cama” houve o cruzamento com os africanos, com ameríndios e esses entre si, dando origem aos tipos que, pelas aparências físicas, foram denominados de caboclos (branco x índio), mulatos (branco x negro) e cafuzos (índio x negro).
Por conta das grandes navegações, da agroindústria canavieira, do extrativismo e do comércio clandestino que motivaram invasões, europeus com características arianas também contribuíram para a nossa miscigenação. Em algumas localidades dos Estados de Pernambuco e Paraíba, ainda podem ser encontradas pessoas com características físicas dos holandeses que estiveram na região entre 1530 e 1554.
Essas características arianas foram motivo de entreveros acadêmicos sobre supremacia de raça, no início do século XX, envolvendo apoiados e críticos da antropologia física como Schultz, Stoddart, Davemport, Grant, Boas, Roquette-Pinto, etc. e o falacioso conceito de superioridade racial serviu de suporte para a ideia higienista de Hitler idealizador do 3º Reich (império no idioma alemão) que culminou com o holocausto judeu na guerra de 1939 a 45.
Apesar da tola ideia de “branqueamento” da população, e do ridículo e insustentável preconceito de cor que já ensejou até lei para coibir, hoje mais da metade dos brasileiros são pardos. Legítimos sem raça definida (SRD) como são chamados pelos Veterinários, aqueles animais cujas características estão de tal forma misturadas que se torna impossível definir a raça, embora que fique bem claro: o ser humano NÃO TEM RAÇA, salvo no momento de xingar – raça de vagabundos; raça de víboras (xingamento bíblico em Mt 3:7).
Nós humanos não temos raça, porque o conceito de raça pode ser definido como o conjunto de características de interesse comercial ou utilitário de determinado grupo de animais que são transmitidas por várias gerações, podendo ser puro de origem (P.O.) ou puro por cruzamento (P.C.)
Bom exemplo para ilustrar a mestiçagem brasileira é a minha árvore genealógica que possui, pelo lado materno, no terceiro nível de ancestralidade, portanto meus bisavôs, etnias tão díspares quanto podem ser um filipino, uma índia tupiniquim, uma africana e um português. Pelo lado paterno eram todos portugueses. Isso significa que 1/8 do meu genoma é “negro” e provavelmente bem maior do que a maioria desses ativistas raivosos que ocupam a mídia em busca de uma reparação social que deve passar obrigatoriamente pela valorização da instrução formal, porque durante a escravidão aqueles que se notabilizaram pelo conhecimento tiveram reconhecimento e aceitação social e na Casa Imperial.
Acredito mesmo que o nosso preconceito está voltado mais para a condição social do que para a cor da pele e que o preconceito, seja ele qual for, deve ser neutralizado por ações de amparo social e não apenas por palavras, porque de nada adianta deixar de chamar alguém de negão e negar-lhe as oportunidades de ascensão social ou acadêmica. Discriminar alguém pela concentração de melanina na epiderme cuja espessura varia de 0,4 a 1,5mm ou porque é analfabeto e mora em barraco ou nas ruas é, no mínimo, estupidez.
Outro fato que pode lançar alguma luz sobre a nossa miscigenação é o que se chama de – efeito estrangeiro – a atração que exerce sobre determinada coletividade a presença de alguém “de fora”, quer seja macho ou fêmea que, via de regra, deriva em conjunção carnal.
Os hábitos, usos e costumes sociais estão intimamente ligados à herança cultural. Conforme os postulados da moderna Antropologia, não existem culturas superiores ou inferiores. Cada uma carrega em si os conhecimentos do povo, suas técnicas de utilização dos meios de sobrevivência, suas crenças, seus mitos e as histórias de seus heróis que formam o arcabouço cultural que é transmitido de geração em geração, notadamente pela oralidade vez que a maioria das línguas são ágrafas. Na nossa sociedade, talvez seja esse o principal entrave para difusão das culturas africanas e ameríndias, visto que só poucos europeus registraram os primórdios da nossa formação.
Apesar de não ser maioria, o europeu contava com armas de fogo e a experiência de muitos séculos de invasões sofridas e praticadas, revoltas e as técnicas de construções com pedras que os habitantes desconheciam. Infelizmente a ganância por riquezas, a estupidez religiosa e a disseminação de agentes patológicos durante a dominação europeia destruíram, antes de coletar, as técnicas das construções megalíticas dos povos andinos e mexicas, únicas entre os demais povos das três Américas e este fato dá margem às opiniões e achismos ensejando embates homéricos e desentendimentos entre pessoas e escolas acadêmicas.
A carência de mão de obra nas Américas, foi contornada pela facilidade do comércio dos escravizados, troféus de guerra entre tribos africanas rivais.
O escravagismo oficial era praticado em larga escala até o século XIX e hoje, não abertamente, persiste em lavouras, fábricas, residências, inferninhos para onde as vítimas são recrutadas com acenos de glamour, ascensão meteórica em bons empregos e “garantia” de salários dignos.
Enfim, nós somos um povo mestiço, sem etnia definida, religioso, pacífico, receptivo, ordeiro e trabalhador em sua maioria, sem costumes cristalizados, com alta capacidade de adaptação de ideias, palavras, usos e costumes.