FLUXOS DA CONSCIÊNCIA SENSÍVEL

 

  O fluxo da consciência muitas vezes ecoa e transcende as paisagens da vida. Existe algo infinito e belo em cada dança entre lua e sol, e vice-versa. Existe a transcendência convidando o mistério a sentir sempre mais. Há sempre algo muito além das palavras. Sempre o ontem entrecortado no hoje, pedindo outras cores do amanhã. Talvez o silêncio reescreva intuições essenciais ou vontades nunca ditas entre as ondas do tempo, sempre muito além dos padrões mecânicos, consumistas e utilitários de um mundo que costuma descartar tudo e todos tão rapidamente.

 

  Em muitos contextos, a sociedade costuma nos induzir a sempre parecer, ter, comprar e fazer sempre mais, em incessantes demandas, mas pouco permite sentir, como se o valor de alguém estivesse condicionado a inúmeros fatores externos de aprovação, aparências, fortuna, status, poder, entre outros. E tentar sempre corresponder a essas incessantes demandas externas tende a tornar-se uma armadilha sem fim. Para cada aprovação momentânea, tende a surgir uma nova demanda, em ciclos infinitos da insatisfação humana.

 

 

  A vida é feita de muitos ciclos e fluxos, aprendizados, dores, dádivas e dúvidas. O fim de um ciclo é começo de outro. Um suposto "fracasso" pode ensinar muito mais do que várias vitórias efêmeras. Ninguém é perfeito e todos nós temos vários momentos de erros e acertos, entre os múltiplos altos e baixos da vida.

 

 Os padrões sociais de aparência, status, fortuna, fama, sucesso, poder econômico, político, entre outros aspectos valorizados do ponto de vista externo, são bastante voláteis e ilusórios, fazendo muitos fantoches, jogos e máscaras que, quando não forem mais úteis dentro das conveniências, provavelmente serão descartados, com prazos de validade cada vez mais curtos. Nesse contexto, o mesmo grupo social que te aprova hoje pode amanhã te descartar de modo célere e iníquo, entre os incertos quebra-cabeças do mundo. 

 

 

 Por isso, muitas vezes, é preciso ir além dessas peças em quebra-cabeças sociais de aparências e de padrões superficiais, para fazer o caminho oposto do convencional mecânico e permitir-se sentir, com mais alma e coragem, a sua própria verdade essencial, ainda que seja difícil. Nosso valor humano intrínseco não pode estar condicionado aos fatores externos sempre oscilantes. O autoconhecimento nos desafia a criarmos uma base sólida interna, com vários aspectos de nossa própria autenticidade, consciência sensível, intuição, amor, resiliência e criatividade.

 

 Pode-se perceber que a sensibilidade criativa é uma força interna, curiosa, sutil e profunda. Talvez a única que permita compreender nossos paradoxos, para além das ilusões de fracos poderes que passam ou pouco duram, enquanto forem rentáveis, em ditaduras de conveniências utilitárias na hipocrisia sem fim do mundo. É preciso ter coragem para ir muito além desse mundo mecânico, que descarta objetos e pessoas como se nada fossem, além de marionetes e engrenagens para grandes máquinas de consumo em massa, entre mãos efêmeras.

 

 

 Mas há sempre algo muito além das aparências desse mundo mecânico. Podemos ver apenas uma parte de uma cena e podemos deduzir, erroneamente, que sabemos tudo sobre ela. Não, jamais saberemos tudo. Essa é a graça da vida. Há sempre algum mistério fascinante que desafia a algo mais. Talvez a sutil ironia por trás disso tudo seja também uma fonte inesgotável de criatividade e de renovação.

 

 Nossa condição humana é ambivalente em muitos sentidos. Somos todos errados e certos, oscilantes e contraditórios, tristes e alegres, altos e baixos, estamos sós ainda que acompanhados da multidão, somos crianças precoces ou adultos infantis? Somos e não somos, como a própria dinâmica da vida, que vai sempre além de maniqueísmos e de máscaras sociais. 

 

 

 Tudo depende do contexto e da perspectiva entre essas finas antinomias para além das aparências voláteis, portanto, muitas vezes escondendo tantos detalhes preciosos, que costumam passar despercebidos aos olhos mecânicos do mundo insensível. Há sempre uma tese, uma antítese e síntese de algo mais. Algo sempre além, muito além, na misteriosa e bela metafísica que só os mais sensíveis captam. Há sempre o invisível desnudado pelos sentimentos. Pode haver sempre um riso escondendo lágrimas, e também existe a lágrima pedindo infinitos risos, seguindo outros fluxos de consciência em percepções mais sensíveis da vida.

 

 Há sempre outro ciclo no horizonte. Há sempre outro caminho para além dos descaminhos, entre misteriosas e múltiplas sincronias universais. Desse modo, sentir transcende as palavras e os fatos em suas dualidades, refletindo em infinitos detalhes que escapam aos limites da razão, em vários fluxos da vida e da criatividade fluindo em tantos sentidos. Nossa consciência sensível é, portanto, uma força interna impagável, enfim, talvez uma das únicas que nos acompanhem dos zero aos cem anos.

 

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