ATLETAS DE DEUS

Dona Mércia, uma fofa senhorinha, no alto de suas sete décadas bem vividas , cuidava da lida de seu lar quando, de repente, ao esticar o forro do sofá, abaixando a cabeça na direção do pé do móvel, é tomada de uma repentina tontura que a leva diretamente para o chão, em uma pirueta indescritível. Tudo foi muito rápido. Nem teve tempo de pedir ajuda ao neto que dormia no quarto anexo à sala.

Ao levantar-se, com muita dificuldade, visto que a tontura ainda não passara totalmente, sente que o ombro lhe dói intensamente. A dor era deveras, insuportável, e ela senta-se no tal do sofá, para ela o causador daquele acidente doméstico que, definitivamente não estava na sua agenda

Ao tentar mexer o braço , Mércia sente que não está conseguindo mover satisfatoriamente o membro, e uma onda de intenso medo lhe invade. Será que quebrei o braço? Se questiona apavorada.

O neto acorda e ao sair do quarto encontra a avó sentada no sofá, segurando o braço esquerdo e com uma cara que demonstrava a imensa dor que sentia. Perguntada o que acontecera, ela lhe conta a situação e ele, sendo médico, lhe faz um rápido exame para descartar o pânico que ele sentia nos olhos da sua avó, da possibilidade mesmo que remota, de ter quebrado o braço, nessa altura da vida, quando os ossos se acham bastante fracos, tomados por osteoporoses ou coisas do ramo. É constatado, durante o exame físico, que não há ossos fraturados. O neto lhe receita uma anteinflamatório para fazer uso durante cinco dias.

Passam-se os dias e a dor persiste. A Mércia é obrigada a buscar um especialista, e vai se consultar com um Ortopedista. Para chegar a um diagnóstico preciso, o médico solicita uma Ultrassonografia. Feito o exame, é revelado o motivo das dores incessantes: rotura extensa acometendo o supraespinhal, etc,etc,etc. É aconselhado pelo profissional que laudou o exame, a realização de uma Ressonância Magnética para um diagnóstico definitivo. Feita a RM, o resultado apontou rotura total dos tendões supraespinhal, e mais uma série de complicações, que somente seriam sanados, com um procedimento cirúrgico.

Feita a cirurgia, e após aguardar 40 dias, Mércia inicia uma longa série de sessões de fisioterapia. Nessa primeira fase, seriam vinte. Ela, logo fêz amizade com as fisioterapeutas. Esse era o fraco dela: fazer amizade com muita facilidade. Falante, alto astral, piadista, Mércia fala pelos cotovelos, literalmente.

A clínica onde ela dava início aquela ”tortura”, era assim que ela denominava os vários tipos de exercícios ali realizados, era bastante frequentada por jovens atletas que buscavam alívio para suas torções e demais males referentes às atividades esportivas de cada um.

Observando melhor o ambiente, Mércia pôde constatar que no local havia também uma grande quantidade de atletas de Deus! Isso mesmo. Idosos que, também buscavam alívio par seus diversos males que advinham da idade bastante avançada. A senhorinha se achou bem confortável entre esses atletas que, ao serem exigidos fisicamente por algum exercício mais tenaz, soltam a frase que é mantra entre os idosos: Ai, Meu Deus! .

Se ambientando, dando uma olhada no que acontecia naquele local de tratamento, a senhora Mércia gostou do que viu: pessoas sendo orientadas por profissionais, procurando melhorar seus movimentos, ora tolhidos por alguma circunstância pessoal, como o problema dela, certamente outros também tinham uma história que corroborava sua estada ali. Percebeu que, estava no lugar certo. Tinha certeza que sairia dali, bem melhor do que quando chegara.

Após completar a série de fisioterapias, Mércia pode constatar que, realmente, estava praticamente apta a voltar às atividades desempenhadas por ela, antes do tombo, que lhe trouxe tanto estresse. É certo que, deveria continuar se exercitando em casa, praticando os exercícios de musculação que foram sugeridos pela profissional que lhe atendera.

E assim, se encerrava esse círculo que, começou com uma queda doméstica e terminava com uma Atleta de Deus em vias de total recuperação.