Expectativas...
O sono demora a chegar e ela vai tentando buscá-lo, através das orações, mas está difícil. Outros pensamentos se intercalam às Ave-marias e, quando menos espera, está se lembrando da netinha. O seu aniversário está se aproximando. Qual será o tema explorado?
Amanhã lhe fará uma visita. Ela é um primor de criança! Tão esperta! Tão linda! Nesse doce devaneio, vai aos poucos relaxando e, como num filme, deixa as imagens fluírem… Flashes vão se acumulando: “Olá, princesinha! Como foi o seu dia? Alguma novidade lá da escola? Almoçou bem, hoje? Vamos prender o cabelo? Não dá certo ele cobrindo os olhinhos.”.
Indo direto ao último questionamento, ela ajeita o cabelo ao seu modo e lhe diz que não. Prender o cabelo, realmente, a tira do sério! A avó sabe disso. Mas continua insistente. Tenta trançá-los, mas ela balança a cabeça e desmancha as madeixas num segundo. A avó, temporariamente, desiste.
São sempre assim os seus encontros! As últimas curiosidades e a quantidade de coisinhas e brincadeiras a se fazer as envolvem. São tantas que, quando percebe, já está na hora de se despedir!
Fica por um instante mentalmente, olhando-a com carinho, ao tempo que reconhece que, nem passa por aquela cabecinha o quanto são importantes essas rápidas visitas, mesmo que em dias alternados. Gostaria muito que ela soubesse, o quanto é bom estar em sua companhia por algumas horas, brincando de esconde-esconde, de casinha, de joão-bobo ou seja do que for. Esquece-se de tudo e de todos. E quando de lá sai, já vai programando o retorno.
Ainda com o sorriso no rosto e as lembranças das traquinagens, percebe o quão rápido tem passado o tempo... Dia desses, ela chegava à sua vida. Tão pequenina! Um cisquinho de gente! Feliz, lembra-se que foi ela quem deu o seu primeiro banho – na maternidade ainda.
Desde então, sempre desejou acompanhar o seu crescimento mais de perto. Quem sabe dividir, as manhãs e as tardes, seus insights, sua amorosidade, suas teimosias, enfim, seu jeitinho de ser no dia a dia. Descobrir os seus mínimos desejos e, quando possível, naturalmente, satisfazer cada um deles.
Quando pensa esgotar as lembranças, outra inquietação lhe aflige o juízo...a sua tão seleta alimentação. Quando pequenina, comia até brócolis - hoje detesta. Mas com certeza, insistiria em sua (re) descoberta do sabor das frutas, legumes e dos alimentos de um modo geral. Solicitaria sua ajuda “profissional”, em cada prato culinário - quem sabe assim facilitaria o processo de novos quereres.
Mas tudo ao seu tempo.
Se acomoda entre os lençóis fecha os olhos na esperança de conciliar o sono, mas eles insistem em permanecerem abertos. Instantaneamente, os pensamentos (re)surgem.
Em breve, sua princesinha completará mais um ano de vida. Sete aninhos.
E de todos os seus desejos revelados - e olha que são muitos -, acha lindo quando ela diz que vai ser isto ou aquilo quando crescer, isso só confirma a sua capacidade sonhadora! Muitas são as expectativas de como será sua vida adulta. Compromete-se consigo mesma, estar ao seu lado sempre que possível, dando-lhes a maior força! Suspira feliz.
Muitos ainda serão os encantamentos. Estar junto dela é descobrir a criança que ainda permeia a sua vida.
Assim pensando e com o coração a transbordar amor, foi se deixando levar pela moleza natural do sono. Percebeu que preferia a expectativa do tema da festa aos devaneios sobre o futuro da neta. Melhor ser como as crianças e viver o presente.