Apenas uma crônica sobre a crônica de Natal censurada

Domingo, 31 de julho de 2022. 11:04.

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Não fui eu. Tava no mercado. Realizei os procedimentos de segurança indicados. Aparentemente, tudo OK. O espanto veio ao acessar o site Sou Escritor. Ando rabiscando umas ideias, registrando umas histórias. Tô publicando os textos lá. Entrei pra acompanhar as visualizações (Ah, vaidade!).

Epa, cadê a crônica do Natal?

Sumiu. Excluída. Fui hackeado / censurado. Apagaram o texto Apenas uma crônica de Natal. O primeiro que escrevi, pro Natal do ano passado. Sabe como é, né? O primeiro é especial.

Mas, caramba! Tinha que ser logo esse?

De cara, a indignação. Depois, dor e angústia. Sensação, ao mesmo tempo, de amputação da mão que escreve e abafamento da voz que lê.

- Nossa, quanto mimimi!

- Pra que esse chilique todo?

- Publica de novo e vida que segue...

Pode parecer exagero mesmo, mas machucou profundamente.

Claro, já tá republicado no mesmo site, que, por sinal, não respondeu ao pedido de informação sobre o desaparecimento do texto. Mas acredito que seja improvável ter sido alguém lá de dentro.

Nem vou deixar de publicar lá, mesmo porque também tem gente que le e tá gostando. No momento tâmo com duas histórias entre os dez textos mais vistos. Não tinha a mínima expectativa de que seriam tão lidos, mas devo confessar que uma surpresa dessas acaricia o ego da gente (Ah, orgulho!). E a do Natal também tava na lista, chegando a quinhentos views, quando foi jogada no buraco negro.

Mas, como minha avó já dizia: “Cachorro mordido por cobra tem medo de linguiça!”, bora procurar um porto mais seguro. Então veio a ideia do blog. Já tá no ar: Sextou, Textou! (www.sextoutextou.blogspot.com).

Meio que impossível publicar toda sexta, mas a intenção é de que em algumas o fim de semana tenha um start diferente. Tá todo mundo convidado pra conhecer.

E esse é o texto de estreia. Mas, como se trata apenas de uma reflexão sobre a crônica censurada, foco no tema.

Não é só questão de publicar novamente. Foi covardia. Foi sorrateiro. Sem chance de defesa.

O grande mal desse tipo de “execução sumária” é justamente a impossibilidade de que ideais, convicções e posicionamentos sejam difundidos, debatidos, criticados, apoiados. Isso mata a nossa capacidade de evolução, à medida que impede a abertura pra conhecer o diferente, aprender com ele e incorporar o que tem de bom nele, bem como rejeitar aquilo que não vale a pena.

E as perguntas ficam martelando. Quem? Por quê?

Bom, antes que alguém comece com uma daquelas teorias da conspiração, pelas quais todo mundo tem uma quedinha, como o manjado lenga-lenga de levantar a hipótese de autossabotagem só pra poder se passar por coitadinho injustiçado, já vou deixando claro que seria um enorme vacilo apagar um texto que já tava fazendo um baita sucesso.

Acha mesmo que eu, escritor consagrado (zero modéstia), no auge da autoestima inflacionada, teria coragem e sangue frio pra cometer a maluquice de deletar uma história na vitrine das top ten?

O texto, que também já tá no blog - e vou ficar feliz ao cubo com quem se dispuser a dedicar um pouquinho de seu precioso tempo pra ler - aborda a polarização política que vivemos atualmente. Uma discussão acalorada descamba pra violência, partidários de um ex-presidente e do atual partem pra pancadaria, bem em frente à estátua do Cristo Redentor numa das avenidas mais movimentadas da cidade.

Ah, também rolou uma condenação à exploração comercial do Natal, que acaba distorcendo o sentido da data e fazendo a gente deixar em segundo plano e até mesmo esquecer o verdadeiro significado da festa. Será que uma certa multinacional teria se incomodado?

Só sendo pretensioso demais pra embarcar numa viagem dessas. Quem sou eu na fila do pão, né? Tá descartada. Eles nem sabem que eu existo!

Teria então o hacker agido por intolerância ideológica? De que cor? Verde e amarela ou vermelha?

Mas também é preciso levar em conta que a história, na verdade, tinha como protagonista ninguém menos que Jesus Cristo. Começa e termina com Ele, o alfa e o ômega. Seria então Ele o alvo do ataque?

Torço descaradamente para que seja. Quero crer com afinco que a motivação para a supressão da crônica tenha sido o Senhor. Porque então teria um sinal bem luminoso de estar vivendo uma experiência estupenda.

Se o “texticida” foi alguém que estava à direita Dele lá na rotatória, então preciso ser Vandré. Se o filho da mãe estava à esquerda, preciso ser o rapaz anônimo da Praça da Paz Celestial. Mas se partiu de quem era contra Ele, então já sou um bem-aventurado. E tudo passa a fazer sentido!

Se a história foi apagada porque falava do Senhor, cumpriu sua tarefa com pleno êxito. Pelo jeito, a mensagem atingiu em cheio e balançou as estruturas do cidadão, a ponto de fazê-lo perder completamente a linha.

Aqui do meu lado, caio na real de que preciso fazer o constante exercício da humildade pra me reconhecer como mero instrumento da vontade Dele. Não fui perseguido por ser eu, mas por estar a serviço Dele.

Mas, vâmo combinar: é bem difícil de perceber e de aceitar que é só assim que tem que ser pra dar bom e, ao mesmo tempo, isso acaba trazendo a certeza da felicidade pura, verdadeira, justamente por se ter a consciência de se estar fazendo do jeito que tem ser feito.

É um negócio que é realmente complicado pra explicar. Mas acho que essa semana tive a oportunidade de provar um pouco, uns "farelinho" mesmo, do que se define, no sentido bíblico, como seguidor de Jesus.

Eita, imagina então que pra ser discípulo raiz tem que ser assim o tempo todo!

Pra fechar com Cristo, só rezando pra caramba e contando com a misericórdia Dele, pra ter sabedoria e discernimento, força e determinação pra lutar contra as próprias mazelas e contra as armações do adversário, as cascas de banana que o encardido joga, meticulosamente, pra gente escorregar e cair.

E aí a gente começa a entender que tem que perder pra ganhar!

E o perder é grande, é o que a gente, na nossa limitadíssima condição humana, apegada às coisas terrenas, considera valioso demais pra se renunciar, pra se despojar, deixar pra trás. É o tal do esvaziar o próprio eu...

Mas o ganhar, aprendi, esse é infinitamente maior!

Vixi! Falei Dele de novo!

Melhor ir ali dar uma reforçada nas senhas...

Ainda em tempo pra um registro: texto escrito em 03 de agosto, dia em que é celebrado o fim oficial da censura no Brasil. Enorme coincidência, né? Que nada, é o puro creme da coisa mandada!