Redundância

Redundância

A nossa língua portuguesa nos reserva muitas surpresas porque somente aquele catedrático é capaz de ter conhecimento amplo sobre as várias regrinhas gramaticais que devem ser observadas na composição de uma frase. No entanto, o que me deixa intrigado é quando vejo frases redundantes que soam mal aos ouvidos. Isso ocorre muito nas frases “feitas” que compõem adesivos de carros. Muitas delas exploram a crença das pessoas. Assim, é comum depararmos com a frase: “Deus é fiel”. Ora, afirmar que Deus é fiel é o mesmo que dizer que a água é molhada. Deus é o pai dos homens e símbolo Universal do bem. Assim, se Deus não for fiel, quem poderia ser?

Creio que a pessoa autora dessa frase não quis dizer, especificamente, que Deus é fiel no sentido de reafirmar uma coisa que já sabemos, mas quis fazer um alerta de que não ser fiel é não estar com Deus. Assim, bastava afirmar que: A fidelidade é uma dádiva divina; Ser fiel é estar com Deus; Seja fiel com Deus. Enfim, haveriam várias formas de expressar essa questão da fidelidade, cotejando-a ante a presença de Deus.

Uma outra frase que me deixa intrigado, embora não seja propriamente uma redundância é aquela observada nos veículos e que vem exposta em boa estampa e em letras bem definidas: “Propriedade de Jesus”. Ora, a questão propriedade encerra um dado material. Jamais Deus poderia estar associado a um bem materializado. A palavra propriedade poderia ser utilizada num outro sentido, como por exemplo: Agir com propriedade é estar ao lado de Jesus. Em todo caso, também neste aspecto, a pessoa autora desta frase quis dizer que a presença de Jesus era tanta na sua vida, que tudo o que era seu pertencia em primeiro lugar a Jesus. Como a intenção era dar prioridade à Jesus, ficaria melhor dizer: Jesus é meu guia; Jesus é meu comando; Jesus é minha direção, enfim, poderia denotar a presença de Jesus, sem associá-lo a um bem material.

Enfim, não estou citando esses exemplos no sentido de criticar alguma pessoa, especificamente, até porque estou falando de frases que tenho visto por aí adesivadas em veículos que transitam nas vias públicas. Por essa razão, é evidente que não sei sua origem e nem quem a escolheu como fonte de mensagem. Nem tenho pretensão de ser professor ou de julgar-me melhor que os outros, até porque não escolhi a área de letras como curso profissionalizante. Sou apenas alguém que se interessa pelas letras como fonte de comunicação e como elemento de integração de idéias.

Por outro lado, confesso que admiro a fé das pessoas. Sei que ninguém escreveu essas frases para se vangloriar ou para apregoar algo que não acreditam. O nosso mundo precisa das pessoas que pensam no bem e de uma forma ou de outra buscam caminho para levarem sua palavra de fé aos seus semelhantes.

Por conta disso, não me senti muito confortável para abordar sobre este tema, mas precisava fazê-lo, para alertar as pessoas de que certas frases, por mais que a intenção seja a melhor possível, podem refletir idéias contrárias ao que se pretende. Por essa razão, antes de divulgá-las é preciso um avaliação mais ampla sobre a sua forma de expressão, para não se correr o risco de querer passar uma mensagem e o leitor entender outra que nem sequer passou pela mente de quem a escreveu.

Machadinho
Enviado por Machadinho em 29/11/2007
Reeditado em 29/11/2007
Código do texto: T757519