A solidão da mulher negra

Assistindo o último BBB, me deparei com a cena da participante Natália chorando, depois de perceber que sua paquera estava ficando com outra participante da casa. Esta cena me comoveu porque percebi que esta situação é algo cotidiano que todas as mulheres negras passam. É como se a gente nascesse com aquele sentimento de que não somos suficientes. Que a nossa pele negra, nosso cabelo cacheado, são fatores que fazem com que não fiquemos à altura das demais pessoas. Peço licença, caro leitor, para falar um pouco da minha vivência.

Comecei a sentir na pele o que significava esse termo “solidão da mulher negra” quando, pequena ainda, fui participar de um concurso comunitário de beleza. Eu, na minha inocência infantil, desfilei com toda a paixão que uma criança de 8, 9 anos pode experimentar, mas, no final, a menina branca com o vestido mais bonito acabou ganhando o desfile. Fiquei com aquele sentimento de que, realmente nunca tive chance.

Na escola, fui a menina magra, com os cabelos bem enrolados (meu apelido era cabelo de miojo) e com atributos físicos não desenvolvidos. Tive paixonites infantis, mas, em relação as minhas colegas brancas, e tidas com mais bonitas, sempre me vinha a mente aquele sentimento de que não havia beleza em mim.

Odiei o desenvolvimento do meu corpo, sempre andava curvada para que os meus peitos não ficassem a mostra e não gostava de fotos( tenho raríssimas fotos entre os meus 15 a 18 anos) Só depois da maioridade foi que comecei a trabalhar o amor-próprio em mim, olhar o meu reflexo no espelho e enxergar que havia beleza nesse rosto negro. Só foi depois da maior idade, que eu comecei a sorrir para o meu reflexo novamente, cuidar do meu interior e glorificar a maravilhosa herança dada a mim por meus ancestrais. Porém, confesso que ainda há vários momentos que o sentimento de tristeza e inferioridade me nocauteiam e me derrubam.

Escrevo essas linhas porque penso que essa é quase uma trajetória comum para todas as mulheres negras e homens também. Por isso que eu digo e afirmo: Eu te entendo Natália e te abraço! Que bom seria se, em um mundo ideal, nunca mais um jovem negro experimentasse desse sentimento de exclusão.

Se pudesse falar diretamente com a Natália e se eu pudesse voltar a minha versão de 15 anos eu diria: Calma menina! Você é Linda! Você vai ser feliz! Você vai encontrar o amor! Terminaria minha fala reproduzindo um conselho que a rainha Beyonce me disse: Garota de pele negra. Sua pele é como pérolas! A melhor coisa do mundo! Nunca troque você por mais ninguém.

Viviane maria
Enviado por Viviane maria em 04/08/2022
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