Corinthians na Degola

 

 

            Creio que São Jorge está com as barbas do dragão no molho. Nunca vi, em gramados, tão grande tortura. O campeonato, que o valha pontos corridos, ganhou vibrantes contornos. Saudado o justo campeão, resta o olhar voltar-se ao campo inferior da tabela. Desperta-nos o lado mórbido. O que, de outra forma, justificaria nossas aglomerações em torno de acidentes urbanos:

            - E aí, alguém morreu?

            A turba de todas as cores torce pelo tropeço corintiano. Ver um gigante desabar é algo que nos encanta, desde que Davi tombou a Golias. Foi o primeiro rebaixamento registrado em texto sagrado. O poderoso desceu ao inferno. E lá, nas labaredas da Segundona, o timão será saudado com apupos calorosos.

            Podemos ver a renda das partidas subir. Estádios lotados. O Corinthians será a sensação. Quando o Fluminense baixou, a segundona virou sensação. Até o Fantástico citava a agonia tricolor. Purgar no inferno pode seduzir mais a atenção do público do que tocar harpas no paraíso. E não é que precisaram virar a mesa, visto o Flu descer ao último dos infernos? O Pó-de-arroz voltou, via portas do fundo, à tropa de elite do futebol.

            Não creio, apesar de tudo, que o Timão vá à degola. Sinto decepcionar São Paulinos e Palmeirenses.

            - Mas o Timão joga fora e pega o Grêmio?

            Concordo, mas do outro lado está o Goiás, com menor tradição e que não vem batendo em ninguém. Os times do sul, graças a um capricho do destino, passaram a figurar decisivamente na reta final. O tricolor pode despachar o Timão e o Inter vai a Goiânia, batalhar no Serra Dourada.

            Fora dos gramados o Corinthians parece pagar pelos deslizes dos dirigentes. Denúncias de lavagem de dinheiro são investigadas. Se existe uma moral no mundo; a chamada lei do retorno, o time do Parque São Jorge parece marcado pelos deuses do futebol. Escrevem o roteiro final com dramáticos tons. A guilhotina está afiada. A lâmina cortará zunindo o espaço. Duas cabeças ainda vão rolar.

            A fórmula dos pontos corridos consagra uma decisão às avessas. Quantos perderão o sono diante das emoções que ainda virão? Resta-nos apenas ligar a telinha ou ir aos estádios. Na próxima segunda estaremos contando risos, ou lágrimas, vertendo de corações alvi-negros.

 

Os: o autor é torcedor do Goiás...