🔵 O juízo final
Secretaria da faculdade de Direito, o atendimento estava tranquilo. Entrou na Secretaria o Sálvio Spínola Fagundes Filho. Sálvio era árbitro de futebol. O senhor que trabalhava comigo conhecia o juiz, o primeiro assunto foi o próximo jogo do time dele. É claro que ele aproveitou a oportunidade para pedir pra ele “roubar” para o seu time. Não deu tempo nem pra me aproximar da conversa e tentar “ajudar” o meu Corinthians, o árbitro se dirigiu para mim, sério, e solicitou um documento à Secretaria com uma urgência exclusiva. Burocraticamente e impessoalmente, eu passei o prazo comum a qualquer aluno. Sálvio Spínola não ficou satisfeito e quis falar com o diretor.
Eu subi até a “Sala da Justiça” para falar com o diretor do curso de Direito. Ele desceu rapidamente e foi, solicito, atendê-lo. Com afã e rapidez dispôs os melhores serviços da faculdade. Foi meio embaraçoso testemunhar aquele marmanjo muito prestativo, célere e estabanado, escorando e tropeçando nos móveis, expedito, prestimoso, e atencioso com o dileto aluno. Feito o exclusivo e inédito atendimento, ofertados prazos — até então inexequíveis — o, anteriormente respeitável, diretor voltou às suas tarefas meio sem jeito, embora aparentemente satisfeito de ter proporcionado um privilégio à subcelebridade. Então tá!
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Corinthians contra o Bragantino no estádio do Pacaembu. O árbitro era Sálvio Spínola Fagundes Filho. Ele, novamente, se encontrava em situação vantajosa. Embora o placar da partida dependesse da honestidade do seu trabalho, não ter que enfrentar o diretor bajulador já era algo para mim.
Desde a entrada em campo (antes do jogo) e durante a disputa, Sálvio Spínola, o árbitro, foi hostilizado. O auge das ofensas foi quando o Pacaembu inteiro “homenageou” sua mãe. Normal, é um jogo de futebol no estádio. Eu já havia esquecido do episódio, mas esse jogo ganhou um aspecto mais pessoal. Ouvindo mais de 30 mil vozes gritando aquilo, e sabendo que o juiz de futebol estava acostumado a ignorar aqueles impropérios nos ouvidos, ri sozinho.