Química
Eram eles duas pessoas com trajetórias longas e complexas... diferentes e, no entanto, cheias de coincidências. Haviam se encontrado no campo do improvável e tinham à diante um abismo difícil de ultrapassar.
Bem poderia iniciar assim uma história envolvendo afeto, desejo, mistério e potência. Mas prefiro pensar em química.
Sim, essa metáfora batida, à qual exaustivamente recorrem os que se encontram pela primeira vez... “como foi a química?” Perguntam...
Elementos químicos complexos (já sei, eu já disse isso, mas é como devem ser referenciados seres vivos, entende? As experiências entre eles sempre suscitam o inesperado). E as respostas elaboradas, a partir da experiência desses dois elementos , apresentam tantas variáveis, quanto a complexidade permitir. E têm sempre, em casos assim, as elaborações que cada um deles formulou.
Sigo contando a partir do que acredito que elaborou um desses elementos, e de como ela, possivelmente poderia analisar a experiência em questão.
Há algo de muito potente em experiências silenciosas, que ocorrem através dos olhares. E os silêncios disseram mais daquele encontro do que toda a verborragia intensa que ali ocorreu. E disse de uma maneira tão profunda que foram necessárias horas, adormecimento e um certo distanciamento para conseguir entender.
Sim, eles conversaram muito e foi uma conversa acelerada que passou por uma infinidade de temas. Tipo Parkur; acelerando, saltando à longas distâncias, subindo, descendo. Às vezes precisando retornar para um novo impulso... velocidade e ousadia de movimentos. (Ah mas isso é sobre física, não química! E nesse encontro faz mesmo sentido um tanto de física).
E toda essa conversa meio que deixou muitos não ditos, muitas suspeitas, uma certa insegurança espremida nas fendas das sintonias. E foi bom.
Para ela não se tratou de uma mera mistura, ainda que a heterogeneidade dos elementos tenha sido preservada, o que no caso de pessoas, seja mesmo muito bom.
Ela vê uma transformação iminente, que permanecerá, independente de desdobramentos dessa experiência em outras. Porque foi um encontro. Assim, com essa palavra cheia de sentidos, mas que, nessa história aflora, como a junção das águas de dois rios, um encontro dos rios, como as águas de Heráclito.
Não saíram os mesmos desse encontro, os nossos dois elementos; teve química.