SOLIDÃO QUE ENLOUQUECE.
Arde em meu peito um descomunal amor 'à solidão', amor que jamais saberei descrever, todavia, esse amor não somente arde, por vezes, o vejo apunhalando o meu peito. É semelhante a brasas vivas tiradas do fogo e colocadas sobre a pele, ou como facas usadas em sacrifícios cravados na carne.
Esse amor à solidão é assim.
Não há muito o que dizer a respeito de tão misterioso sentimento, não há como defini-lo de outra maneira, embora os dizeres sejam imprecisos, são as únicas palavras que encontro neste momento. Toda a sua grandiosidade não pode ser mensurada e nem descrita.
A solidão surgiu, de repente.
O meu peito parece querer arrebentar a fibra que o enlaça à dor vivente tamanha é o pesar de amar a solidão, sim, é a mágoa de amá-la tanto, esse amor desmedido, desmesurado. Sou este ser sem qualidades, louco apaixonado, jogando palavras pela janela da alma. Meus versos ao vento… Nada podem me dizer. A solidão causa essa sensação em mim, esse desconforto, esse incômodo. Já não sei o que fazer; já não sei o que pensar. O meu peito apenas arde, é dolorido, é bom, é ruim, como pode ser tudo e tanto? Diga-me, como pode tamanha dor ser tão boa?
Quisera eu compreender os mistérios de nossos corações, quisera eu ter todas as respostas para as perguntas simples que o amor deixou em minha janela. Talvez por esse motivo tornei-me eremita, sim… Agora entendo, ou, pelo menos, penso entender a razão de ser quem sou, a solidão deixou-me assim. Os poemas, são os dizeres não entendidos de uma alma que não se pode decifrar.
Hoje é um dia qualquer de um mês sem importância, a solidão, esse anjo ledo de meus sonhos, é a razão da minha insanidade, é na verdade, a razão de toda minha decadência moral. Às vezes, quando ela surge no castelo de cristal do coração, na torre alta dos pensamentos, muito raramente quando tenho a oportunidade de estar com ela, sem que os súditos ( sentimentos ) do castelo venham perturbar — eu confesso — Meu desejo é de beija-lá… Ah!! Como eu desejo aqueles lábios tão divinamente formados, molhados de paixão, a cada movimento, a cada palavra dita, enfim, a solidão tem lábios que me enlouquecem como bem podes perceber.
Outro dia, permita-me contar-lhes rapidamente, quando a solidão ainda estava ausente, em um fim de tarde agradável, eu bem me lembro, leciona ainda sobre as divagações da alma, quando ela saiu em desespero à minha procura. A certa hora da tarde, temendo que a razão percebesse todo o meu intento, pois era visível a todos, toda minha vontade de agarrá-la ali mesmo, acabei por me esconder. Certamente que se me flagrasse, seria um escândalo em toda escala cósmica cerebral. Eu tive que intervir em meus próprios sentimentos, me despir do meu eu, desfazer o status, a vida, coloquei vestes do anonimato, e fugi.
Ninguém nunca compreendeu.
Retornei à escola da alma depois, oculto, eu a instrui como deveria proceder perante minha nova identidade, eu era um fantasma, assim ela fez, e nada de ruim aconteceu-nos. Lembro-me, que naquele trajeto de retorno a casa verde, ainda abandonada, certamente foram os melhores de todos os momentos que tivemos. Eu a amo… Sim… Eu amo a solidão. Embora seja proibido a este aedo relacionar-se com um ( sentimento mesquinho ), sendo eu quem sou, ou, quem era — sei que um dia, em algum lugar, ou em um universo qualquer, encontrarei uma maneira para amar o que não pode ser amado, o abstrato da vida.