TEXTO QUE NÃO QUERIA ESCREVER

Ele chorava desconsoladamente, lamentava, e lembrava os detalhes que tinha vivido com sua amada mãe. Eu apenas o ouvia, vez ou outra tentava balbuciar algumas palavras que podesse o consolar, mas era envão, porque a dor era imensa, a intensidade de cada lembrança lhe aguçava mais ainda, aquele aperto no peito e as lágrimas que escorriam pelo seu rosto triste, não tinha remédio que aliviasse a dor daquele rapaz.

Parei meu trabalho e fiquei ali a escuta-lo, a imaginar sua dor e refletir o quanto é difícil ficar sem a pessoa amada.

Apertou-me o peito quando me imaginei. Logo desviei meus pensamentos, afinal meu colega estava precisando que eu o escutasse, o momento era dele.

Falou-me da sua família e sua preocupação com o pai, ele era o que importava agora. Ainda comentou não gostar de comemorar seu aniversário, sentia-se velho e próximo da morte, pois já tinha quarenta cinco anos. Tentei mostrar-lhe que precisava se cuidar porque ainda era jovem. Ouviu-me e nada falou; seu foco naquele momento era falar da inexistência da sua mãe, da dor que lhe tomava. Seus olhos estavam inchados de tanto chorar, seu coração disparava e recorria ao chá de camomila. Ele refugiou-se o dia inteiro na minha sala, falando das suas lembranças junto com sua mãe.

Marlene Rayo de Sol
Enviado por Marlene Rayo de Sol em 30/07/2022
Reeditado em 31/07/2022
Código do texto: T7571463
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