O Pior e o melhor
Nosso melhor e nosso pior convivem desde que nascemos, nem sempre pacificamente. São feito Caim e Abel, só que nesse caso Abel tem chances de sobreviver se for esperto, pois Caim é bruto e impulsivo. O mal é fera que reside em nós e não basta reprimi-la, é preciso amansá-la, pois fica cega diante da frustração e estresse. Santo mesmo já ficou provado que nenhum humano é, embora muita gente sublime seus impulsos menos nobres e trabalhe em prol do próximo sempre que pode. Ponto pra eles. Se desejar o mal já faz a vida retroceder, que dirá agir em prejuízo de alguém.
É claro como água que certos seres despertam deliberadamente ou não sentimentos atávicos e negativos em nós, mas até mesmo a mágoa ou a inveja involuntária devem ser combatidas. Elas são muito mais corrosivas para o agressor do que para o agredido. Já outros, mal conhemos e já nos dão vontade de protegê-los tão grande é a identificação mútua. Aí é uma felicidade imensa.
Não é cisão de personalidade, é uma espécie de rebeldia compreensível. Visamos com fervor o que ainda não temos e a psicologia aborda fartamente esse comportamento. Mas a luta interna também cansa, não só os embates com terceiros. Estressa, a mente rodopia e perdemos o equilíbrio no sentido estrito e figurado. Tenho pena dos que se julgam fortalezas, estão equivocados. Sim, pois o pior quase sempre já ficou na poeira da estrada, esse lado é arrogante, mas também fraco. Em verdade ninguém se basta inteiramente, é só olhar para os lados e ver que a cada passo dado a engrenagem se retroalimenta e você ao mesmo tempo serve e é servido. Homem ou bicho é ser vivo. Portanto o “anjo e demônio” são faces da mesma moeda queiramos ou não. Melhor investir no que dói menos e o que dói menos quando somos atacados é respondermos com solene desprezo e esquecimento, nunca vingança. Essa última destrói a gente de verdade muito mais que um inimigo, nos faz sentir, como disse o gênio Milton Nascimento, “Eu, caçador de mim”. Dessa caça íntima não há como fugir porque o caçador domina os pontos frágeis e todos os esconderijos possíveis, portanto estender a flâmula da paz para o nosso ego é o mais acertado a fazer em qualquer situação.