Lugares históricos de Campo Grande
A atual praça dos Imigrantes, situada na confluência das ruas Joaquim Murtinho com Rui Barbosa, bem no centro de Campo Grande, Mato Grosso do Sul, tem uma história centenária. Podemos visitar hoje algumas cenas históricas desse lugar, onde ainda habita um pouco a alma da cidade antiga, graças às crônicas escritas pelo ilustre Paulo Coelho Machado, assim como por outros autores campo-grandenses. No início do século XX, o espaço era usado para estacionar os carros de bois dos fazendeiros que vinham à vila para fazer suas compras. Do mesmo modo, no seu entorno, pastavam os animais dos tropeiros e boiadeiros que se hospedavam na histórica Pensão Bentinho. Um local bem estratégico porque ficava próximo à Rua Velha, atual 26 de Agosto, onde concentrava quase todo o comércio da época.
Nos idos de 1912, quando a vila recebeu a visita do então presidente do Mato Grosso, Joaquim Augusto da Costa Marques, ali foi armado o palanque para recepcionar a numerosa comitiva de visitantes, que estavam acompanhados por uma dezena de policiais. Era a primeira vez que Campo Grande recebia um presidente do Estado, que também visitou Nioaque, Aquidauana, Miranda, Corumbá, entre outros locais do território onde nasceria o Mato Grosso do Sul. Uma extensa viagem que durou quase seis meses, em grande parte, viajando em lombo de cavalo, depois dos trechos navegáveis entre Cuiabá, Corumbá e Miranda.
Durante a visita do ilustre político, o referido espaço público recebeu a denominação de “Praça Costa Marques”, que durante muito tempo ficou sendo o local para o fechamento de negócios de venda de gado para boiadeiros que visitavam a vila e ficavam hospedados na pensão do senhor Bento Gomes Benjamin. Com uma dezena de quartos, a velha casa foi renovada para bem atender os seus hospedes regulares.
Esse espaço público, ainda sem nenhuma urbanização, era também usado para as festas religiosas, reuniões políticas e populares. Muitos hóspedes da Pensão, que vinham de Minas Gerais e São Paulo, eram apreciadores da boa cozinha regional, abastecida com carnes, leite fresco, queijo, frutas e verduras produzidos na chácara do proprietário, situada do outro lado do Prosa, onde anos depois nasceriam os bairros do Monte Líbano e São Bento.
Muitos boiadeiros traziam suas tropas carregadas com caixas de mercadorias, incluindo ferramentas, tecidos, remédios, utensílios, bebidas, entre outras, para serem trocadas por gado ou vendidas para comerciantes locais. Nasciam assim os laços profundos entre a pecuária e o comércio com suas especificidades regionais. A longa viagem exigia a formação de grandes boiadas para reduzir o custo da numerosa comitiva de peões em relação ao número de animais. Depois da cansativa viagem, enquanto permaneciam na vila, boiadeiros e peões movimentavam todo o comércio.
Na mesma casa da extinta pensão, anos antes, funcionou a Escola Particular São João, do professor Antônio Antero Paes de Barros, que também foi coletor, jornalista e intendente-geral (prefeito) de Campo Grande, nos últimos anos da Primeira República. Para finalizar, após a vila ter sido elevada à categoria de cidade, em 1918, novos hotéis foram construídos nas proximidades da Estação Ferroviária e o comércio central se diversificou e cresceu. Ficaram na memória os saudosos tempos, os boiadeiros e o espaço público hoje chamado Praça dos Imigrantes. Afinal, como canta o poeta Almir Sater: “Os caminhos mudam com o tempo. Só o tempo muda um coração. Segue seu destino boiadeiro. Que a boiada foi no caminhão”.