Presença histórica do padre Julião Urquia
O exercício da cidadania requer a nossa contribuição na tentativa de superar as questões mais imediatas da atualidade, passando pelos desafios sociais, políticos, econômicos, entre outros. Mas esse compromisso não nos isenta da tarefa de articular presente e passado, procurando conhecer as nossas raízes históricas. É com esse intuito que retornamos à presença do padre Julião Urquia nos primeiros anos do povoado que deu origem à cidade de Campo Grande, capital do Mato Grosso do Sul.
Corria o mês de março de 1878, quando o padre Urquia, vigário da Freguesia de Nossa Senhora do Carmo de Miranda, percorreu 30 léguas em lombo de animal, para celebrar a primeira missa na Capela de Santo Antônio. Esse modesto templo, demolido há quase um século, localizava-se a poucos metros da atual Catedral Nossa Senhora da Abadia e Santo Antônio. Naquela ocasião, o sacerdote também celebrou três casamentos que uniram as duas famílias mineiras fundadoras do povoado.
Quatro anos antes, havia substituído o Frei Mariano Bagnaia na administração da enorme paróquia de Miranda, que abrangia grande parte do território onde nasceu o atual Mato Grosso do Sul. No exercício do sacerdócio, viajava por longas distâncias para atender em igrejas, capelas e grandes fazendas. Chegou ao Mato Grosso para trabalhar na catequese dos povos indígenas e na difusão inicial do culto católico na região, onde atuou por aproximadamente cinco décadas.
No tempo considerado nesta crônica, de acordo com a constituição do Império, o catolicismo era a religião oficial do Brasil, razão pela qual, os cofres provinciais eram encarregados de pagar ao vigário de cada paróquia as côngruas, pequeno salário para manter o culto público. Foi nesse quadro que o jornal cuiabano A Provincia de Matto Grosso, em 9 de fevereiro de 1879, publicou o pagamento provincial de suas côngruas.
Outro registro de sua participação na história regional foi sua subscrição, juntamente com outros cidadãos de Miranda e Nioaque, para efetuar a compra de terras da fazenda na qual foi fundado o povoado de Aquidauana, conforme consta em ata assinada em 15 de agosto de 1892. Alguns anos depois, graças ao seu empenho foi criada a Freguesia do Alto Aquidauana, da qual veio a ser o primeiro vigário. Ao final da mesma década, liderou a fundação da Irmandade de Nossa Senhora da Conceição, visando construir de uma nova capela consagrada à padroeira de Aquidauana.
Sobre a trajetória do padre Julião Urquia, na antiga região sulina do Mato Grosso, temos ainda as anotações do historiador Estevão de Mendonça, inseridas em sua obra Datas Matogrossenses, publicada em 1919, destacando tratar-se de um sacerdote nascido na Espanha. Assim que chegou ao Brasil, aceitou o convite para integrar o serviço religioso de apoio às aldeias indígenas, começando seu trabalho logo após o término da guerra com o Paraguai (1865-1870).
Depois de longa atuação para o progresso da região, padre Julião Urquia faleceu em Aquidauana, no dia 27 de outubro de 1926, aos 90 anos de idade, sendo sepultado no cemitério municipal daquela cidade. Por essas e várias outras razões nossas reverências à memória do sacerdote pela sua marcante presença na história do Mato Grosso do Sul.