Muito além dos desacertos

As marcas inteligentes da nossa alegria tornou-se visível em nosso filme instantâneo. Na película real e hipnótica da tarde fria foi bom tê-la encontrado em pleno centro urbano. Sem que soubéssemos onde estávamos há tanto tempo ficamos zombando do número nos objetos e do vidro caríssimo de alfazema da vitrine cara. Você subiu no carro e descobriu que estávamos numa data comemorativa. - Foi bom contar vinte anos de adeus em nossa presença por puro acaso. Dissemos um para o outro repleto de ternura: “não vamos embora, é cedo…”

Instante histórico e vasto de nossa felicidade vitimada pela solidão. Passamos então a verificar a vitral aparência da noite. Por dentro chorávamos a perda de uma estrela vitimada enquanto verificávamos a aparência noturna, nela havia ainda agradecimento, bondade e beleza. Nossas mãos unidas pediam a brincadeira de passear pela cidade. Nossas roupas de parque e nossa alma de fim de semana pediam o ritmo das canções puídas e românticas.

- Vamos parar naquele salão iluminado? Sim. Nossos passos jamais corriam e pedimos ao dono do lugar para dançar ali mesmo. Dançamos com o som no volume exato da emoção em nossos olhos. Os demais também dançavam e beijavam a memória do tempo e perdoavam o passado.

Madrugava cuidadosamente sem quebrar o ninado do sonho amoroso com um vago bom-dia. Amar foi toda a nossa riqueza. O que aconteceu conosco? Havia cantores, flores e perfumes. Havia nossa loucura de amantes loucos e varridos pela maresia. O sal de nossas bocas sedadas pelo prazer reluzia espetacularmente diante da expressão lunar. Nosso viver era calmo, tudo era tão simples, nada dilacerava nem carecia de explicação. Brotava sempre uma nova força providente, constante, onde reluzia feito trilhos a rebrilhar no sul do horizonte. Você fazia de tudo um palácio onde eu era o rei sem exército nem medo. Você conseguia fazer do lingote de giz um pedaço de ouro. Diz o que aconteceu? Para onde você foi além de mim? Diga novamente no espelho do brechó meu nome recitado labialmente seguido da palavra amor.

Tércio Ricardo Kneip
Enviado por Tércio Ricardo Kneip em 28/11/2007
Reeditado em 10/07/2020
Código do texto: T756899
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