Meu querido avô

Era o primeiro dia de agosto.

É o mês que eu faço aniversário. Mas ironicamente é o mês que eu perdi o meu avô e minha avó com uma diferença de cinco anos e vinte dias.

O ano era 2005, parecia um dia como outro qualquer. Me levantei cedo, morava em um sítio, pedi benção ao meu vô e fui tratar dos bichos. Perguntei a ele se ia levantar, e ele me disse que ficaria um pouco mais na cama, estava um tempo muito frio de manhã. Meus pais já haviam saído pra trabalhar.

Tínhamos galinhas caipiras, porcos e os meus preferidos que eram os coelhos.

Eu estava animado, pra voltar às aulas naquele dia.

Quando terminei de cuidar dos animais, já eram umas oito horas da manhã. Sentei na varanda um pouco. Logo percebi que o meu vô não tinha levantado ainda, achei estranho. Alguma coisa me disse pra ir lá dar uma olhada.

Fui no quarto pra ver, e encontrei o meu avô numa posição de quem ia levantar, com os olhos abertos, porém virados, e com a boca aberta, e enrijecido. Foi uma visão terrível!

Ele já estava morto, não teve tempo nem de gritar.

Eu o chamei bem alto em vão, só tinha o corpo morto dele ali.

Perdi o meu chão na hora. Lembrei de tantas histórias que vivemos juntos.

Tudo realmente passou na minha mente como num filme.

Meu avô morou na minha casa por quase dez anos pra fazer tratamento de saúde em Belo Horizonte.

Éramos como irmãos com uma diferença de sessenta anos. Jogávamos baralho, dominó.

Saímos juntos para o centro da cidade. E meu avô ainda me ajudava a namorar com as meninas. Era meu amigo mesmo.

Fui a última pessoa que falou com ele. Quando cheguei da casa da minha namorada na noite anterior, ele estava acordado ainda e me pediu pra fazer um Toddy pra ele. Eu fiz pra nós dois, conversamos um pouco e fui dormir.

A morte vem de repente, sem tempo pra se despedir.

Aprendi muitas lições importantes com meu vô. Guardo pra sempre comigo a lembrança dele. Era uma pessoa que só fazia amigos por onde passava. No enterro dele foram muitas pessoas pra se despedir.

Eu não fui ao enterro. Não queria ver.

Ele foi sepultado no cemitério da Paz em Belo Horizonte.

Ali se encerrou a história de um jovem corajoso que fugiu de sua casa na Bahia e morou a maior parte da vida no Espírito Santo e encerrou a vida em Minas Gerais. Pai de cinco filhas.

Meu querido vô Bahiano que aqui jaz...

Sob o céu estrelado, descansa em paz.

Abreu Lima
Enviado por Abreu Lima em 26/07/2022
Código do texto: T7568127
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