Retorno à velha represa dos padres
Entre as saborosas lembranças dos meus tempos de menino, vividos nos anos 60, estão os passeios que eu fazia com meus amigos de infância, à extinta represa dos padres, nas manhãs ensolaradas de domingo. Um pequeno lago de águas cristalinas, formado por um paredão de pedras, obra muito bem construída, com um capricho que saltava aos olhos. Um local de veraneio ideal para se refrescar ou pescar lambaris em poços existentes na parte mais baixa do terreno. Tinha pouca profundidade, o suficiente apenas para dar algumas poucas braçadas, sem os perigos oferecidos por outros rios e córregos de águas revoltas que havia nas cercanias da cidade.
Esse lugar ficava nas terras altas da fazenda anexa ao Ginásio Paraisense, que na década de 1940 foi administrado pelos Irmãos Lassalistas, em São Sebastião do Paraíso, polo cafeeiro do Sudoeste Mineiro. A referência mais próxima dessas aventuras do passado seria a confluência atual das avenidas Zezé Amaral e Monsenhor Mancini. Hoje, totalmente dentro do perímetro urbano da cidade. Naquele tempo, a fazenda com cerca de 50 alqueires permanecera praticamente abandonada, depois de 1957, quando os religiosos deixaram a direção do estabelecimento.
Sendo propriedade do Bispado de Guaxupé, ficara sob a guarda da paróquia local. Numa casinha em ruinas, quase encoberta pelo mato, morava ali uma senhora bem idosa que usada pano na cabeça e vestido longo, acompanhada do seu filho adulto que, por vários anos, trabalhou na sapataria do meu pai. O padre havia cedido o casebre para que ela pudesse morar ali em troca do serviço de guardar o terreno.
As águas da represa nasciam na parte alta do terreno, num bosque protegido por bambuzais e contornados por extensos campos com muitos pés de coquinhos de Indaiá, marolos, guarirobas e outras frutas que não existem mais. Foi uma obra feita pelos Irmãos Lassalistas para coletar água para abastecer o histórico Ginásio.
Passou-se o tempo e ficou apenas a lembrança, sob o testemunho do prédio secular onde hoje funciona uma Escola Estadual. Por certo, em breve, a cidade deverá contornar a Morro do Baú, outro lugar onde ainda pulsa a alma de minha meninice, citado em velhas crônicas do passado, escritas apenas para tentar o impossível prazer que se banhar duas vezes nem mesmo rio ou saborear a mesma fruta da infância.