REAPRENDENDO A FLORIR
Escrevo pra alimentar meus fantasmas, meus ferrolhos, meus porões.
Cada palavra é parida imantada por réstias de amor, de carinho, de torpor,
de o que for.
Escrevo desnudando minha alma inteira, virando do avesso sua pele,
seu sangue, sua voz, seu ar.
Escrevo pra alforriar-me de mim mesmo, destravando os medos que povoam
cada pedaço do meu chão.
Escrevo pra revelar partes de mim submersas em sombras, pretextos e folguedos proibidos.
Assim desanuvio as câimbras que a vida untou, desapegando aqueles fétidos seres que insistem em sobrevoar as ideias e intenções.
Escrevo pra reaprender a gozar, a celebrar, a florir.
Solto as palavras numa desembestada folia, talvez a melhor folia de todas.
Então consigo abraçar os leitores anônimos que se prestarem a ler os escritos,
formando com eles uma coisa única, sem dono, sem regra, sem fim.