NOSSA VÁLVULA MESTRA
Ele está por trás dos nossos desejos - dos mais frugais aos mais sórdidos. Se esconde nas catacumbas de cada passo, de cada salto, de cada brecada, de cada investida. É ele que diz pra subir, descer, rodear, flagrar ou atacar. Sem ele nada terá graça, nada terá razão de existir. Nele estão enclausurados nossos medos, nossos sonhos e quitutes. É ele que segura nossas rédeas, nossos chicotes e âncoras. Tem gente que passa a vida o ignorando, supondo ser algo desprezível, inócuo, algo como placebo. E tem gente que percebe suas veias, concedendo-lhe o crédito devido. Esses passam a dar a cartas, ficam à frente do bando e dão o grito de guerra. Mas o que seria esse tal "ele"? O que teria de tão capaz e poderoso a ponto de interferir nos caminhos de cada um? Estou falando do "gatilho", o fator que desencadeia tudo, que faz algo ser ou não ser. Seria o que dá o empurrão pra alguém cair do precipício ou dizer um "te amo". Nada acontece por impulso ou por intempestiva decisão. Nada é obra do acaso, da sorte. Tudo tem algum fator detonador, um primeiro estalo que faz a bomba explodir. Tudo tem um gatilho - embutido ou saliente - ao qual podemos atribuir o mérito de algo acontecer ou deixar de acontecer. Amor, ódio, saudade, angústia, tesão, agonia, folia, desejo, sonho e o que mais quiser terá sempre um coadjuvante implícito como válvula mestra. Esse gatilho é o grande responsável por sermos o que somos ou o que sempre desejamos ser nessa tal coisa chamada de vida.