NOSSAS TANTAS FACES
Faz um bom tempo, fui levado por uma namorada pra assistir ao show do Cazuza em SP. Do lado da gente, no corredor entre as poltronas, estava o sério diretor do espetáculo atento a cada detalhe, cuidando inclusive das luzes sobre o palco. Ele deveria ter uns 40 anos naquela época. Era o Ney Matogrosso, paisano, sem aquelas indumentárias e trejeitos que o consagraram como artista disruptivo à frente dos Secos & Molhados. As duas imagens - do diretor sério e compenetrado e a criatura meio-bicho que fez tanto sucesso - são tão díspares, até opostas, demonstrando o quanto somos capazes de nos fantasiar pra fazer valer algum papel nos teatros da vida. O quanto temos de identidade passível às novas diretrizes, dependendo das regras do jogo. E, sobretudo, quantos personagens guardamos dentro da gente só esperando a deixa pra florir, pra vir à tona. Somos vários atrás da mesma máscara, da mesma farsa e da mesma verdade.