🔵 Tyson Free
Bairro de Santana, São Paulo, podia ser uma boa. Um barzinho com banda ao vivo: legal. O nome do bar era “Overdrive”; um lugar cuja tradução do nome é “ultrapassagem” não representava nenhuma ameaça. Detalhe importante: o ‘Overdrive’ era um reduto “punk”; passado o impacto inicial, todos conseguiram disfarçar o medo, prevalecendo a postura de quem não temia tribo urbana alguma que já pisou as ruas de São Paulo.
A bordo de um ônibus velho rumo a Santana, não havia motivo nem alguém admitiria a desistência. Chegando lá, pegamos algumas cervejas e fomos ao fundo do bar, onde uma banda destruía os tímpanos que insistiam em permanecer intactos. Mas éramos jovens e roqueiros, portanto ninguém teve a personalidade para reconhecer que aquele barulho era horrível. Então seguimos dentro da, digamos, casa... Através do corredor, examinando todo o trajeto, apenas piorou minha impressão. Espelunca foi a palavra perfeita que encontrei para descrever o local. A descrição inicial seria suficiente para manter-me longe dali, entretanto já era tarde demais, por isso sabia que a noite seria longa.
No fundo da espelunca, onde a banda “punk” ofendia o bom gosto, um sujeito repelia à base de socos e pontapés, todos que ousavam se aproximar arriscando “dançar” da mesma maneira. Observei a figura, assustado com a cena, do coturno ao boné: como disse, coturnos militares, calça camuflada e uma camiseta com a estampa do lutador Mike Tyson atrás das grades, com a “singela” frase: Tyson Free. O conjunto todo foi cuidadosamente composto para dissuadir qualquer um de nós a tentar uma proximidade num raio de 1 metro. Vendo aquele “punk”, entendi o que é enfrentar o vilão “master” na fase final do videogame. O “Tyson Free” levava a “dança” “punk” a sério, de maneira que entrar na pista e desafiá-lo era como subir num ringue. O resultado eram moleques sendo expulsos com socos e chutes, apesar da coragem.
No dia seguinte, passados o efeito do álcool e a adrenalina da música, as dores disseminadas pelo corpo trouxeram o arrependimento de ter ousado entrar, muito menos “dançar”, num local onde existia um “punk” gigante, de coturno, calça do exército camuflada e uma camiseta exigindo “Tyson Free”.