GARRAFA VAZIA
Os amigos que atuam há muito tempo na propaganda irão se lembrar do casarão cor de rosa, na Avenida Eusébio Matoso, próximo ao Shopping Eldorado, onde por muitos anos foram as instalações da Núcleo de Propaganda. Acredito que também se recordarão das magnificas festas e recepções que rolavam por lá, com mulheres bonitas e farta distribuição de uísque, mas do bom, simplesmente o legítimo escocês, de todos os anos, ao gosto do convidado. A prestigiosa marca internacional era cliente da agência, portanto não poderia ser diferente, a bebida tinha que ser mesma a tal. Pois bem, me recordo perfeitamente de uma dessas confraternizações realizada no meio da semana. A enorme recepção onde desenrolaria a festa ficava bem no centro do casarão, à direita uma sala de reuniões e à esquerda o departamento de mídia.
O evento se restringia a um seleto grupo da alta cúpula de clientes e de simpatizantes, assim tivemos que guardar as máquinas de escrever e as calculadoras na sala do nosso diretor da mídia, ajeitar as mesas e as cadeiras e deixar nossos afazeres um pouco antes do horário para dar espaço aos serviços. O que rolou na noite nunca soube, se bem que têm coisas que é melhor mesmo não saber. No dia seguinte encontramos uma desordem generalizada na nossa sala, mesas sobre mesas, cadeiras espalhadas e os armários, aqueles antigos arquivos de aço para pastas suspensas, repleto de garradas vazias do cobiçado “scot”. Eram dezenas delas.
O Miguel, grande bebedor de uísque, não se conformava com tamanho desatino. Não nos convidaram e, ainda, beberam no nosso território e para nos gozar deixam as garrafas vazias no nosso sagrado templo de trabalho. Desaforo. Por vingança pegou uma daquelas ampolas, encheu de chá mate, ajustou cuidadosamente a tampa, acondicionou em uma embalagem da preciosa bebida e a endereçou anonimamente à Núcleo Propaganda, aos cuidados do responsável pelo atendimento e planejamento da conta, o Diógenes. Isso tudo com o aval do Ulisses.
Caprichosamente foi até aos Correios na Avenida Faria Lima e anonimamente postou o pacote. Confesso que nunca soube se a encomenda chegara às mãos do destinatário e, se chegou como se portou ao deparar com o mimo.