ESSE SENTIMENTO INEXPLICÁVEL - O AMOR

Roberto não entendia por que Pollyanne o rejeitava. Ele se julgava um rapaz de boa aparência. Verdade seja dita, ele não era nenhum galã de novela, mas tinha seus predicados. Além disso, ele era uma pessoa inteligente, agradável, de boa conversa. Sabia dialogar a respeito de diversos assuntos sem ser cansativo e sem mostrar superioridade à outra pessoa.

Mas com Pollyanne nada disso adiantou. Seu papo agradável, os elogios que fazia para a menina, seu modo sempre gentil e simpático de tratá-la, nada disso adiantou. Roberto realmente não se conformava em ter perdido aquela que ele considerava a melhor garota que já conheceu: Ela tinha dezenove anos de idade, corpo esguio, olhos castanho-esverdeados e puxados; pela macia e alva como a neve; voz e gestos suaves; algumas sardas no rosto que a tornavam ainda mais delicada. Na verdade seu corpo inteiro era harmonioso e, além disso, a sua educação e a sua maneira correta de falar são atributos raros de se encontrar nos dias atuais e que acabaram conquistando Roberto. Na sua visão, ela era a mulher perfeita. Estaria Roberto exagerando? Talvez um pouco, pois quando se trata de amor, às vezes não enxergamos os defeitos da pessoa amada, só as qualidades.

Mas o fato é que ele havia perdido, ou melhor dizendo, sequer havia conseguido conquistar a sua amada. E para sua decepção, seu concorrente, aquele que arrebatou o coração da menina, era o oposto dos dois: Usava o boné virado para o lado, camisa colorida, larga e bem comprida, bermuda larga, estampada e caindo. Na visão de Roberto, o seu concorrente era o desalinhamento em pessoa e tinha gostos musicais no mínimo duvidosos. O seu vocabulário limitava-se a gírias, palavras erradas e frases mal construídas. Não conseguia emplacar um assunto interessante, mesmo porque Roberto achava que o rapaz não se preocupava em adquirir cultura para isso.

Mas isso tudo era irrelevante, pois Pollyanne estava apaixonada pelo rapaz assim mesmo. Tudo o que ele fazia ela gostava. Ela gostava de seus gestos, de seu modo de se vestir e de falar. Ela conseguia gostar até de suas piadas sem graça.

Roberto podia não entender o que Pollyanne viu naquele sujeito, mas ele entendia de uma coisa: Desse sentimento traiçoeiro, o amor. O amor não escolhe a pessoa pela aparência, pelo modo de vestir, pela boa fala e pelos bons modos. Ele simplesmente acontece.

Roberto não queria aceitar, mas a pura verdade é que ninguém escolhe a quem ama. O amor surge quando você conhece uma pessoa e o sentimento nasce em seu peito. Não tem explicação plausível e muito menos científica. Foi assim que aconteceu com Pollyanne e com o próprio Roberto. Ambos não escolheram a quem amar. Mas de uma coisa ele tinha certeza: Pollyanne jamais o amaria e essa era uma dor que ele não conseguia suportar. Era duro conviver com a dor desse amor não correspondido.