Trincheiras
Os dias seguem sendo dias.
Com gosto de chumbo na boca, com ar pesado e conversa vazia no ranger de dentes em formatura.
E como coisas incríveis acontecem aqui, quase sempre rimos, como boas crianças em um circo - em que os palhaços somos nós.
Há dias em que o sol sai, e até os gramados acinzentados ganham um pouco mais de cor; porém, tudo tem uma atmosfera meio sombria.
Nos dias frios, toda relva se transforma em uma névoa digna dos pássaros de Hitchcock.
Como se tudo e nada ao mesmo tempo pudesse acontecer.
O tempo se arrasta em lugares assim, e não muito diferente das penitenciárias, o tempo aqui desliza como uma lesma.
Vejo o futuro repetir o passado de uma forma ruim, e penso em todas as coisas que já me aconteceram por aqui. Em todos os caminhos e lugares que já passei - e que diga-se de passagem, não foram poucos - e chego a conclusão de que eles podem tentar me castrar, porém jamais conseguiriam.
Sou mais rápido que todos eles juntos.
E em verdade vos digo que: Podem ter meu corpo, porém jamais cortarão as minhas asas.
Tudo isso uma hora irá passar, e por aqui deixo - como sempre deixo - um prato de comida e muitos abraços amigos. E que saibam que eu passaria o inferno do lado de cada um deles.
Findo tudo isso com mais uma lição aprendida:
Nas trincheiras, os bons laços se estreitam.