DEIXA DE LOROTA!
FRANCISCO DE PAULA MELO AGUIAR
Quando a esmola é grande até o "santo" desconfia. Sim, é isso mesmo. Quando chega o período eleitoral surgem "santos" e "anjos" de todos os lados como caídos do(s) céu(s), anjos negros, anjos brancos, anjos indios, anjos azuis, anjos verdes, anjos amarelos, anjos roxos, anjos da verdade, anjos da mentira, anjos vestidos: de batinas, de paletós, de gravatas, de e sem fardas, de bondades, de bíblia(s) e de terço(s) na(s) mão(s), de espírito(s) santo(s) de e sem orelha(s) para todos os gostos que a ocasião requer... É a ideologia de manipular a tudo e a todos para garantir a colheita do voto, dão atenção a todos que nunca foi dada antes, cestas básicas, telhas, tijolos, sacos de cimentos, exames médios, dentistas, remédios, presenças em enterros, missas e cultos, enxovais de casamentos e de bebês, contratos de empregos, documentos, lanches, cafés, caronas, alvarás de construções, roupas, calçados, cachaça, dinheiro, pagamentos de taxas de água, energia elétrica e telefone, caixões de defuntos, pagamentos atrasados de IPTU, caminhões de barro e de areia, padrões de camisas, calções e bolas de times de esportes em todas as modalidades esportivas (futebol, etc) , dentaduras, advogados, viagens/romarias para São Severino do Ramos, Nossa Senhora da Penha, Nossa Senhora da Guia, Padre Cícero/Juazeiro/Ceará, até ônibus para festa de Iemanjá, etc..., cachaça, visitas aos compadres, comadres, afilhados e aos parentes pobres...
Ainda tem aquele tipo de eleitor cheiro de vergonha que diz não estou precisando de nada para votar, mas se quiser dar, deixe aí. Obrigado!
No dia da eleição não vá votar a pé e nem aceite chapa de ninguém, virei buscar você e sua família para votar. E depois lhe trago de volta. Não vou deixar você e sua família na mão ou vendo navio... depois disso, só na próxima eleição.
Ao falar sobre parentes pobres, me vem à cabeça o caso do prefeito e candidato a reeleição de uma cidade imaginária qualquer... que resolveu fazer um torneio/quadrangular de futebol na zona rural em um campo de pelada improvisado, para isso "doou", sic, com dinheiro da prefeitura: padrões de calções, camisas e bolas aos times ali existentes e convidados em cada região da municipalidade... "doou" também, uma “lauta” feijoada gorda, bebidas para todos os gostos e regimes "finos" da clientela constituída de parentes, camumbembes e amigos seus e dos atletas, vizinhos e seus agregados. Teve até trio de forró para alegrar a todos e principalmente a moçada que agitava e acreditava em encontrar naquele dia o sapato perdido da princesa e ou sapo que vira príncipe.... todas as casas dos sítios próximos do campo de pelada foram visitadas pelo candidato a reeleição de prefeito e seus capachos candidatos a vereadores e ou não, aja "jogo" labial, palmas, gritos, foguetórios, daqui e da colar jogando conversa fora..., o candidato concordava com tudo que o eleitor visitado falava, pedia, exigia, abraços, beijos, tapas nas costas, apupos e elogios para os que já morreram e que na eleição anterior estava entre eles..., se lembravam, tinham saudades e elogiavam a Deus e ao diabo... porque a eleição passada foi vitoriosa.
O id, o ego e o superego do candidato e dos seus possíveis eleitores e munícipes aliciados, estava nas alturas... aja festa, gritos, vivas, comidas, bebidas e elogios com força... mesa e presença farta...
O fogo amigo da vida alheia e do candidato opositor era o principal prato condutor da força alimentadora da campanha, o discurso e mote da campanha... pé de chinelo com pele de cordeiro.
O aliciamento eleitoral só mudou o tom do discurso quando um velho solteirão, sujo, bêbado, maltrapilho e conhecido do candidato à reeleição, já inconsciente de tanta pinga e lavagem de consciência manipulada, resolveu sair dos trilhos, criou coragem e disse ao "doutor" filhote de coronel falido e da neta de uma irmã de seu avô materno, que ele o prefeito e candidato a reeleição, rico, corrupto, ladrão, um santo de “pau cheio”, em oposição ao santo de “pau ôco”, que ele era seu parente, aí a coisa ficou feia, o candidato “in loco”, desconversou e negou a parentela cobrada pelo "brioco¹", filho de uma prima legítima da avó materna do prefeito... Coisa de política familiar dentro da política partidária.
O velho ficou "diseleitor" na hora, até morrer entre um gole de “pinga” eleitoral e outro. Um outro parente da mesma "clã" e/ou “curiola”, disse para o parente bêbado, ele não sabe que você é parente dele não, a mãe dele, titia é irmã de papai e “somente” papai, sempre me diz quem são meus parentes, inclusive você e família. Fique quieto, você é um dos meus... acabe com isso, beba mais uma...
É isso mesmo, "rico" só lembra de parente "pobre" para comprar o voto dele em período eleitoral. O que “cabumba²” faz, o outro parente desfaz, porque depois que sobe para cabeça a água que passarinho depenado bebe, sai a verdade sobre o que sabe e ouviu dizer. Claro! Ele não fica calado e nem é de lorota!...
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¹ Vide o significado de brioco = Ficar sem dinheiro, falir. In.: <https://www.dicionario.info/brioco/>.
² Vide significado de cabumba = Cachaça de má qualidade, com auto teor de cobre. Obtida com a mistura da primeira cabeçada do alambique que é muito forte e contém impurezas. In.: <https://www.dicionarioinformal.com.br/cabumba/>.