EMPODERAMENTO FEMININO X CAVALHEIRISMO
Nas duas últimas semanas tenho utilizado ônibus como forma de transporte. Aguardando a liberação do carro no serviço mecânico, ir aos lugares mais distantes de ônibus não é uma opção, é uma necessidade. Não alugar um carro também não é uma opção. É uma necessidade – de economia no caso.
Ao usar com mais frequência o serviço coletivo, algo me estranhou. Observei como se tornou padrão a não observância de gentiliza em ceder lugar nos bancos de passageiros a pessoas mais velhas, a mulheres, a pessoas carregando sacolas pesadas e até a adultos com crianças. Surpreendeu-me inclusive, que um motorista tivesse que parar o ônibus e pedir para que alguém cedesse o assento a uma mãe com seu filho (que deveria ter no máximo três anos). Estou com quase 40, e na minha infância e adolescência, era quase uma vaidade ter a oportunidade de tecer gestos nobres em oportunidades como no contexto citado.
Fato é que, sem querer me autopromover, ofereci praticamente em todos os dias assento para pessoas das quais eu julgava com mais critérios para merecer o lugar.
E pasmem! Mesmo quem faz o gesto nobre não significa concordar com ele. Num dia destes, elogiei uma mulher que se levantou e cedeu o lugar no qual estava sentada para uma mãe que trazia consigo uma criança. Lembrei inclusive que havia moços ou adolescentes de ambos os sexos que poderiam ter tomado a mesma atitude. Ao tecer o elogio, recebi com acidez a seguinte resposta: “pois é, mas não concordo. A culpa é das mulheres que resolveram sair de casa para ganhar dinheiro e agora os homens usam como argumentos direitos iguais. Bem feito para nós mulheres. Aliás, não entro nessa lista de culpadas. Eu nunca trabalhei fora de casa. Meu marido sim, e estamos casados há 30 anos e nunca foi isso um problema. Lógico que ele tem mais direito no dinheiro que eu, afinal, enquanto ele trabalha eu tenho mais momentos de descanso, de menos amolação...”
Isso aí foi um resumo. Ainda bem que não precisou de eu me defender quanto ao elogio que ficou dispensado. Lógico que mulheres que estavam do lado logo se puseram a defender a classe. E com toda razão ne! Cavalheirismo, gentileza, generosidade, sensibilidade não se mede com a régua da intolerância com relação aos avanços das mulheres no mercado de trabalho.
E eu nem entendi a associação entre empoderamento feminino e a situação da diminuição dos bons modos ou gestos cavalheirescos. Decido pressupor de que se trata de inveja velada. Que pena!