ao meu pai

Dia 15 de julho, dia da morte de meu pai, lembro até hoje o momento de minha chegada ao hospital e vislumbrei pela fresta da porta a sua cama vazia, ainda não era hora de inicio das visitas da tarde e apenas eu havia chegado para a visita diária junto com outros irmãos.

Fui invadido por mil pensamentos diante daquela visão, estaria em procedimento? Por que não está lá como todos os outros dias? Afinal, ninguém do hospital não nos avisou de nada.

Um detalhe que não lembro é como recebi a noticia, não lembro se entrei, se me informaram no corredor mesmo, enfim, isso está apagado na mente, lembro que de lá, fui para a casa de minha mãe para informar e já providenciar sua roupa, fui o portador da notícia.

O resto da tarde passou lenta, a noite, já com ele entregue para o velório e liberação para o cemitério, foram longas horas de lembranças, de tantas coisas, de arrependimentos, de saudade, foi uma avalanche de situações e isso só aumentava quando ficava ali parado olhando seu rosto e cabelos branquinhos, só me vinham a mente muitos e muitos momentos com ele vivo, como eu gostava do jeito que ele nos criou, como ele era trabalhador e o quanto demonstrava gostar de viver enquanto estava bem, mas, os seus últimos anos serviram para jogar um balde agua fria em seu jeito de ser, houve mudança imensa em sua vida, doença, perda de seu negocio, sua sensação de inutilidade e importância, enfim, a morte, embora ele nunca a desejasse, ela chagou.

No decorrer de uma vida junto com nossos pais nós aprendemos e vemos detalhes inerentes a condição humana, vemos falhas, vemos que ninguém é tão perfeito, vemos o que podemos fazer de bom de ruim, do bem do mal, o quanto podemos considerar que tivemos uma vida cheia de companheirismo com quem escolhemos para casar, aprendemos o quanto uma união concreta, consegue sim, perdoar muitos deslizes que cometemos e cometermos nesta existência, como podemos aprender com exemplos, com o direcionamento para o lado certo da coisa e que isso nos guiará para quando chegar nossa vez de sermos pais, isso eu aprendi um pouco com meu pai, eu o considerava secretamente ardiloso, não para prejudicar pessoas, ele era em proveito próprio, ele sabia fazer, sabia sair, sabia o que queria e como queria, e sempre conseguia , e, apenas como um expectador aprendiz, eu já sabia tudo isso sobre ele.

Enfim veio a morte, ele se foi, restam lembranças, restam fotos, e como meu pai era bonito, restam suas piadas, algumas até sem graça, mas que eram boas de se ouvir vez em quando, restam os seus amigos que ficaram durante os seus longos anos de comercio, eram amigos de todo tipo, mas eram pessoas que frequentavam seu comercio muito pela companhia, afinal o seu comercio era tão acanhado, tão pequeno, mas dentro dele havia aquele homem, meu pai.

sonetosamadores
Enviado por sonetosamadores em 16/07/2022
Reeditado em 16/07/2022
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